Socióloga diz que Brasil pode ser mais solidário

22/12/2005 - 8h02

Adriana Franzin
Da Agência Brasil

Brasília – "O Brasil poderia ser muito mais solidário se investisse mais em políticas sociais do que no pagamento da dívida externa" afirmou Eliana Graça, socióloga do Instituto de Estudos Sócio-Econômicos (Inesc), no programa Diálogo Brasil, apresentado ontem à noite pela Tv Nacional.

Ela defendeu que os programas de transferência de renda são fundamentais, mas não resolvem o problema. Afirmou, também, que os projetos de responsabilidade social nas empresas são fruto de um sentimento de indignação da sociedade: "se o Estado não assume, não tem quem assuma, então, eu assumo. A situação é tão insustentável que as pessoas acabam assumindo um papel que não é delas".

Sérgio Haddad, diretor da Associação Brasileira de ONGs - Organizações Não-Governamentais - (ABONG) ,destacou, em contrapartida, que não é possível responsabilizar a sociedade por outros deveres do Estado como sistemas de saúde e educação.
Ele afirmou, no estúdio da TV Cultura, em São Paulo, que a sociedade civil é vista tanto como uma oportunidade para construção democrática, quanto uma "oportunidade de lavar as mãos sobre as responsabilidades do Estado em relação aos direitos". Para ele, "solidariedade é a vontade de mudar e nesse aspecto é necessária a indignação".
De acordo com Haddad, a indignação é o primeiro passo para a responsabilização, pois, dessa forma, a população se conscientiza de que dar esmolas não resolve o problema.
"As Ongs são uma forma de ser politicamente solidário, de achar soluções para que as pessoas possam ser agentes do seu próprio desenvolvimento", acrescentou.

No estúdio da TVE Brasil, no Rio de Janeiro, a diretora executiva do RioVoluntário (Ong que engaja cidadãos em ações voluntárias), Heloisa Coelho, lembrou o marco do voluntariado: os 500 anos da construção da primeira Santa Casa de Misericórdia, em São Paulo, que tem a solidariedade como valor preponderante.
"O Estado não pode fugir da responsabilidade que é dele, mas nós podemos colaborar com o estado" ressaltou. Segundo ela, o empresariado pode agir dessa forma através de projetos de responsabilidade social. Para Heloísa Coelho, antes de ser uma questão de marketing, a responsabilidade social é um sinal de conscientização dos empresários.

Também no estúdio da TV Nacional, o professor e historiador Robson Arrais lembrou as experiências que ocorreram com o orçamento participativo. Para ele, as experiências foram positivas em prover a saúde, educação e segurança, mas esses são deveres do Estado. "A solidariedade só veio a ser uma ação do Estado com Getúlio Vargas, e Betinho conseguiu chamar a sociedade civil", salientou.
Arrais disse, ainda, que o país chegou a uma posição de oitava economia do mundo e de pior concentração de renda exatamente no período de alto crescimento da economia. Segundo ele, "nós nunca conseguimos associar democracia com crescimento econômico, quando tivemos uma, não tivemos a outra". O professor defendeu que a democracia permite o debate e a geração de soluções, e, assim, ela tende a colaborar para o fim da desigualdade social.

O programa de ontem foi feito em homenagem a Herbert de Sousa, o Betinho, que completaria 70 anos em 2005. Os debates do Diálogo Brasil são mediados pelo jornalista Florestan Fernandes Júnior. O programa é transmitido ao vivo para todo país, sempre às quartas-feiras, das 22h30 às 23h30. Os telespectadores podem participar enviando perguntas e sugestões pelo e-mail dialogobrasil@radiobras.gov.br e pelo telefone (61) 3327-4210.