Em 2004 foram registrados mais de 140 mil casos de malária no Amazonas

22/12/2005 - 8h02

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil

Rio – A malária é uma doença infecciosa potencialmente grave, para a qual não há vacinas disponíveis, causada por parasitas (protozoários do gênero Plasmodium) que são transmitidos de uma pessoa para outra pela picada de mosquitos do gênero Anopheles. Mais comum na região Norte do país, notadamente na região amazônica, foram registrados somente no estado do Amazonas – o de maior incidência da doença – 146.296 casos, em 2004, numero superior ao verificado em 2003, quando foram verificados 140.642 casos. As informações são do Centro de Informação em Saúde para Viajantes (Cives).

Doença transmitida pela fêmea do mosquito, ameaça cerca de 40% da população mundial e atinge anualmente a cerca de 300 milhões de pessoas que vivem em áreas consideradas de risco – mais de 90% em países africanos, causando entre 1 a 1,5 milhões de mortes ao ano.

"No Brasil, a existência de malária é registrada de forma esporádica pelo menos desde 1587. A partir da década de 1870, com o início da exploração da borracha na Região Amazônica, torna-se um grande problema de Saúde Pública. A exploração da borracha atraiu dezenas de milhares de imigrantes provenientes do Nordeste, que foram sistematicamente dizimados pela malária. Em meados da década de 40, estimava-se que no país, para uma população de 55 milhões de habitantes, ocorriam entre 4 e 8 milhões de casos de malária por ano resultando em cerca de 80 mil óbitos", informa o Cives.

Ao explicar a incidência da malária em grande escala na região amazônica, o pesquisador do Instituto nacional de Pesquisa do Amazonas (INPA), Wanderli Tadei, disse que isto ocorre em razão do ecossistema das águas barrentas do Rio Solimões, com abundância de plantas aquáticas flutuantes, propícias à reprodução do mosquito transmissor da doença.

"Por isto as cidades existentes na Amazônia não estão às margens do Rio Solimões, mas sim junto às águas pretas, onde há menos mosquitos. Águas pobres em nutrientes, praticamente água destilada, com cor escura em função dos ácidos nela existentes", explica o pesquisador. Tadei – que também é o coordenador do Grupo de Malária do projeto Potenciais Impactos e Riscos Ambientais da Indústria do Petróleo e Gás no Amazonas (Piatam). – admite dificuldade em se encontrar, a médio prazo, uma vacina que seja eficaz na prevenção aa doença.

O grupo estuda o comportamento do mosquito para trabalhar preventivamente. "Nós não temos uma vacina eficaz. Todos os avanços que houve foi de eficácia de imunização de apenas 35%, e isto já é muito bom, embora já na fase seguinte se perca este percentual". Ele acredita, porém, que com as técnicas moleculares que estão sendo desenvolvidas, os pesquisadores passaram a ter mais esperança de conseguir êxito em encontrar um imunizador eficiente. "É preciso lembrar que, se há dificuldades em se conseguir vacinas para vírus como o da gripe e da Aids, imagine contra a malária, que é um protozoário – um organismo mais complexo".

Tadei disse que hoje cerca de 30 a 40% da população vive na periferia de Manaus. "Temos cerca de 600 a 800 mil pessoas expostas, que vivem nos igapós (florestas sujeitas a inundações). Nesta ocupação desordenada, invadimos o habitat natural do mosquito. Então temos de aprender a conviver com ele".