Relator de CPI quer ampliar investigações sobre grupos de extermínio em nova comissão

26/11/2005 - 7h33

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agencia Brasil

Brasília – Foram dois anos de trabalho. Criada para desvendar execuções de jovens, sindicalistas, empresários e trabalhadores rurais, a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre grupos de extermínio no Nordeste acabou por descobrir uma relação entre criminosos de diferentes regiões do país. O relatório final, com cerca de 600 páginas, descreve a forma como atuam os grupos e aponta indícios de contratação dos matadores nordestinos para chacinas nas baixadas santistas e fluminense.

"Vários depoimentos e inquéritos policiais mostram que os matadores dos nove estados do Nordeste são contratados por organizações criminosas do Sudeste, Norte e Centro-Oeste para executar as pessoas que decidem sair da organização ou colocam obstáculo para as atividades de comércio, exploração sexual, tráfico de drogas e armas, jogos de azar, falsificação de remédios e combustível, além de lavagem de dinheiro", revela o relator da CPI, deputado e padre Luiz Couto (PT-PB).

A comissão teve os trabalhos encerrados este mês, com a aprovação do relatório final. O documento recomenda, entre outras medidas, a criação de uma nova CPI para investigar a atuação dos grupos de extermínio em todo o país. Nele, promotores públicos contam, inclusive, que muitos matadores já identificados pela polícia nordestina hoje vivem em estados como São Paulo e prestam serviço para suas organizações de origem nesses locais.

Para o relator da já extinta CPI sobre execuções no Nordeste, é necessário ainda que a CPI dos Bingos investigue a atuação de donos de máquinas caça-níqueis na morte de jovens, em geral assaltantes que roubam as máquinas. De acordo com Luiz Couto, a sugestão já foi feita, mas até agora não houve resposta. O deputado tem acompanhado a tentativa da CPI dos Bingos de esclarecer as mortes dos prefeitos petistas Celso Daniel, de Santo André, e Antonio da Costa Santos, o Toninho, de Campinas.

"Nos dois casos, houve uma execução. Mas, como não me debrucei sobre os processos, não sei se esta execução está necessariamente ligada a grupos de extermínio ou é conseqüência de um crime comum", afirma Couto, para quem o melhor era que a morte dos prefeitos fosse tratada por uma CPI específica sobre esses crimes em todo o país. "Da forma como está, a investigação fica superficial. A CPI dos Bingos precisa investigar outros aspectos importantes desse assunto, como a relação dos donos de máquinas de caça níqueis e bingos com os grupos de matadores."

O deputado Luiz Couto pretende apresentar o requerimento para a criação da nova CPI sobre grupos de extermínio no Nordeste no início do próximo ano. Mas, desde já, está pessimista quanto à possibilidade da comissão ser efetivamente instalada. "Existem várias CPIs em andamento e diversas na lista de instalação. Além disso, 2006 é ano eleitoral, o que dificulta o funcionamento dessas comissões", reconhece o parlamentar paraibano.

"Esse tema 'grupos de extermínio' também não é visto com bons olhos por muitos deputados, que sofrem pressões de eleitores e até mesmo de outros políticos para não mexer com esse assunto. Isso ficou claro nas negociações para aprovar o relatório da nossa CPI. Demoramos um ano para votar o relatório."