Érica Santana
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Não é possível pensar em políticas de erradicação da pobreza e da violência no país sem a execução de políticas públicas apropriadas para resgatar a população negra da exclusão social. A afirmação é da oficial de programa e ponto focal em Raça do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Diva Moreira.
"Não há democracia racial no Brasil. Trata-se de um mito. Enquanto a sociedade e Estado brasileiro não derem conta de encarar essa realidade, continuaremos com elevadas taxas de miséria, violência e pobreza no nosso país", afirmou Moreira, que participou hoje (24) do seminário A população nas Políticas Públicas: Gênero, Geração e Raça.
O encontro foi organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e pela Comissão Nacional de População e Desenvolvimento (CNPD) e apoiado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Durante o seminário, que vai até amanhã, serão apresentados e discutidos os reflexos das políticas públicas no bem-estar da população.
Segundo, Diva Moreira, "falta vontade e solidariedade política" para aplicação de políticas públicas voltadas para a população negra. "Uma coisa é a discussão das desigualdades no Brasil, outra coisa é a execução de políticas de ação afirmativa e políticas universalistas, que possam reduzir as diferenças e tornar a nossa sociedade mais igualitária para os descendentes de africanos", disse Moreira.
De acordo com ela, "sem políticas de ações afirmativas o Brasil não vai a lugar algum". Moreira defende que essas ações sejam mais breves porque, segundo ela, "isso significaria uma ação mais rápida e eficaz da resolução do problema".
Diva Moreira avaliou positivamente a criação da Secretária Especial de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) por ter "levado a discussão do racismo e da igualdade racial para o interior do Estado brasileiro". Ela disse também que as políticas de cotas precisam ser acompanhas por medidas que permitam aos estudantes negros permanecerem nas universidades, terem bom desempenho e por políticas de inserção dos profissionais negros no mercado de trabalho.
O Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil 2005 – Racismo, Pobreza e Violência, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) divulgado sexta-feira passada (18) revelou que as desigualdades entre brancos e negros não se restringem à questão salarial, mas estão presentes também no emprego, no tempo de estudo, de vida e no tipo de moradia.