Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília – A presença da Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah) evitou uma guerra civil naquele país. A afirmação foi feita pelo ex-comandante das tropas militares da Minustah, general Augusto Heleno Ribeiro, ao defender a permanência da missão, em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara das Deputados.
"Eu não tenho nenhuma dúvida de que se hoje a Minustah saísse do Haiti, o país mergulharia numa guerra civil, porque não tem estrutura capaz de segurar gente sem emprego, sem perspectiva de futuro e que vai abraçar qualquer causa para ver melhorar a sua própria situação", disse.
O general deixou o comando das tropas em setembro, depois de passar 15 meses no cargo. No seu lugar, assumiu o general Urano Bacellar, também brasileiro. Segundo Augusto Heleno Ribeiro, em relação à segurança, a maior parte do Haiti vive uma situação "absolutamente tranqüila", com exceção de alguns pontos da capital, Porto Príncipe, como o bairro Cité Soleil, "que ainda está sob controle de gangues".
"O Haiti hoje tem menos atividades criminosas que uma grande parte dos países da América Latina, inclusive a capital haitiana, que é o termômetro da missão. Em termos de nível de criminalidade está muito abaixo do Rio de Janeiro e de São Paulo", acrescentou.
O general afirmou que, depois de passar mais de um ano à frente das tropas militares da missão de paz, está convencido de que o problema naquele país não é apenas militar, mas também político, social, econômico e ecológico. Ele classificou a situação socioeconômica haitiana de caótica.
De acordo com Ribeiro, cerca de 80% da população economicamente ativa não têm emprego formal, 70% fazem apenas uma refeição por dia e 60% são analfabetos. O povo haitiano, disse o general, ainda sofre com a falta de infra-estrutura. "O Haiti é um país em estado de coma e que precisa de ações rapidamente para sair da UTI."
Augusto Heleno Ribeiro criticou a falta de projetos de desenvolvimento para o país. "Não entendo até hoje por que não aconteceram (os projetos). Segundo ele, desde julho de 2004, países doadores prometeram cerca de US$ 1,08 bilhão e a estimativa é que já tenham sido destinados ao Haiti cerca de US$ 500 milhões. "Mas ação efetiva na ponta da linha a gente não consegue ver".
Segundo ele, além do apoio militar, a Minustah realiza ações humanitárias, como distribuição de água, alimentos, remédios e material escolar. "Existem organizações não-governamentais que nos criticam por realizar ações humanitárias. Se nós não fizermos, pouca gente se disporia a fazer. Reconheço que há organizações que trabalham muito com ação humanitária, mas, para o caso do Haiti, essas ações não são suficientes".
O general Ribeiro afirmou ainda que um dos desafios da Minustah é o efetivo das tropas. São 13 contingentes distribuídos no país inteiro, com sete mil militares, dos quais 1.350 são empregados diariamente nas operações nas ruas. "É um efetivo reduzido para as aspirações da missão, se tivéssemos um efetivo maior, seria mais fácil".
O Haiti vive uma instabilidade política desde 2004. Atualmente, o país tem um governo provisório.