Celso Amorim vai à África pedir união entre países pobres a menos de um mês da reunião da OMC

23/11/2005 - 20h39

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O ministro das Relações Exteriores, Embaixador Celso Amorim, pediu hoje (23) união entre os diferentes grupos de países em desenvolvimento, para que seja possível avançar nas negociações no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). "A mensagem do G20 é uma mensagem de unidade. Estou convencido de que apenas preservando nossa unidade e fortalecendo nossa coalizão natural, poderemos assegurar que os objetovos de desenvolvimento da Agenda de Doha sejam alcançados", afirmou Amorim durante a Conferência Ministerial da União Africana sobre as Negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC). O encontro, que acontece em Arusha, Tanzânia, acaba amanhã (24).

O G20 é o grupo de países em desenvolvimento, liderado pelo Brasil, que negocia regras mais justas para a Agricultura no comércio internacional. Ao mencionar os demais grupos de países em desenvolvimento, o ministro referia-se aos países da África, Caribe e Pacífico (ACP) e às nações menos desenvolvidas (conhecidos por LCD, pela sigla em inglês), que formam o G90, grupo dos países mais pobres do mundo. "Estamos num momento-chave das negociações e temos que evitar, a todo custo, cair na armadilha da velha estratégia do ‘divida e governe’", alertou o ministro.

A menos de um mês da 5ª Reunião Ministerial da OMC, que será realizada em Hong Kong, Amorim sugeriu um trabalho conjunto em várias frentes. "Devemos promover nossos objetivos comuns", disse o ministro, destacando que os países em desenvolvimento e, a União Africana em particular, não devem aceitar nenhum acordo que limite a Declaração de Doha em propriedade intelectual e saúde pública, colocando interesses particulares na frente do bem-estar comum.

O ministro reafirmou a prioridade da agricultura nas negociações da Rodada de Doha – série de negociações da OMC que começou na cidade de Doha, em 2001. "Embora a agenda de desenvolvimento englobe uma série de temas importantes, considero que o maior potencial para mudanças positivas está na agricultura", disse o chanceler. "É na Agricultura que os países em desenvolvimento são mais competitivos e prontamente capazes de participar do mercado internacional Além, disso, é na agricultura que estão as maiores distorções."

Em seu discurso, o chancelar afirmou que o acesso a mercados por meio de cortes em tarifas e cotas é importante, mas não suficiente. Na avaliação do ministro, tais medidas podem se tornar inócuas diante de práticas distorsivas como os subsídios concedidos pelos países desenvolvidos aos seus agricultores.

Como exemplo, mencionou os subsídios concedidos à exportação do algodão – entre 99 e 2002, os subsídios concedidos pelos Estados Unidos aos produtores americanos chegaram a US$ 12,5 bilhões, equivalentes a 89,5% da safra e US$ 13,9 bilhões. O Brasil questionou na OMC a prática do governo norte-americano e venceu."É ostensivamente injusto que nossos agricultores tenham que competir com o Tesouro dos países ricos. È por isto que a agricultura está no coração da Agenda do Desenvolvimento de Doha e é tão importante para os países em desenvolvimento.", afirmou.