Empresária confirma denúncia de que era extorquida por prefeitura de Santo André

23/11/2005 - 14h40

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A empresária do setor de transportes, Rosângela Gabrili confirmou hoje (23), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, a denúncia de que foi extorquida pela prefeitura de Santo André (SP). O crime teria ocorrido durante a administração de Celso Daniel, assassinado em 2002.

Rosângela voltou a acusar o ex-secretário de Serviços Municipais de Santo André Klinger Oliveira Souza de comandar o esquema. Em depoimento na CPI, semana passada, Klinger afirmou que a denúncia era uma tentativa de Rosângela "blindar o contrato" de sua empresa com a prefeitura.

Segundo Rosângela, em dezembro de 2001, apenas a viação São José, da qual a família Gabrili é uma das proprietárias, chegou a ser "extorquida" em R$ 41,8 mil por mês. Rosângela afirma que, assim que Celso Daniel assumiu a prefeitura, informou aos empresários que a administração da cidade e do setor estaria sob a responsabilidade do secretário de Serviços Municipais.

"Em uma reunião com o meu pai [Luiz Alberto Gabrili, na ocasião presidente da associação das empresas de transporte do ABC] e outros empresários, Klinger informou que a partir daquele momento todo dia 30 seria recolhido nas empresas uma ‘contribuição’ para o partido", afirmou ela. "O valor da extorsão era definido de acordo com o número de ônibus que cada empresa tinha na cidade, e ele seria reajustado de acordo com o reajuste das tarifas."

A empresária afirma que, "de acordo com Klinger, o dinheiro era para o PT e seria entregue ao PT". "Foi uma coisa imposta. Tínhamos que pagar. Ele ia para as reuniões armado, com revólver. E deixava claro que com poder não se brinca, se cumpre. Tínhamos medo de procurar ajuda."

Em seu depoimento na semana passada, o ex-secretário Klinger afirmou que a denúncia de que havia um esquema de arrecadação de propina no setor de transporte da cidade foi feita num "ato de desespero". Segundo ele, a empresária Gabrilli tinha medo de perder o contrato de sua empresa Guarará com a prefeitura.

"Uma semana antes da morte de Celso Daniel, Rosângela Gabrilli me procurou dizendo que não tinha condições de cumprir o contrato que tinha com a prefeitura", disse. Klinger afirmou que, na época, ameaçou romper o contrato com a empresa caso ela não cumprisse os serviços determinados. Segundo o ex-secretário, Rosângela "mantinha o contrato por lobby de João Francisco" – irmão de Celso Daniel, prefeito de Santo André morto em 2002.