Agricultura orgânica deve ser tema de interesse na reunião de ministros latino-americanos no Equador

29/08/2005 - 11h45

Benedito Mendonça
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A questão da agricultura ambientalmente correta, ou orgânica, deverá ser um tema de interesse de todos os países envolvidos na reunião de ministros de agricultura latino-americanos no fórum "Agricultura e Vida Rural das Américas", que acontecem em Guaiaquil, no Equador. Essa é a opinião do professor da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Núcleo de Apoio à Competitividade e Sustentabilidade da Agricultura (Nucomp), Antônio Carlos Félix. O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, participa do encontro.

Segundo o professor, o que se quer com esse tipo de agricultura é o equilíbrio do meio ambiente. "A agricultura orgânica que hoje é buscada tem um nicho de mercado", observa ele, ressaltando que esse nicho "não seria nem os produtos orgânicos, mas os produtos ambientalmente corretos, ou seja, que não degradam o meio ambiente, que não empregam mão de obra infantil e que não usam quantidades de agrotóxicos além daquelas permitidas".

Na visão do professor Félix, há uma demanda que o Brasil e seus pequenos agricultores podem explorar, tendo em vista que "essa situação hoje favorece muito os nichos menores de mercado, o que permite que produtores de menor área, de mais baixa renda, e da agricultura familiar, possam ocupar esse nicho". No entanto, adverte o coordenador do Nucomp, essa ocupação tem que se dar "com o apoio do governo, estruturando essas pessoas em cooperativas ou em grupos de produtores que venham a atender e analisando mercados que se apresentam com potencial".

O encontro que começou neste domingo (28) envolve 34 ministros e vai até o dia 2 de setembro. O evento é organizado pelo governo do Equador e pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). De acordo com a Assessoria de Imprensa do Ministério da Agricultura, os ministros devem firmar um compromisso para priorizar políticas regionais de saúde animal e sanidade vegetal, além de apoiar programas que incentivem investimentos privados no meio rural e promovam a agricultura orgânica, a segurança alimentar e a agricultura sustentável.

Outro tema que, segundo o professor Félix, deverá permear o encontro de cooperação entre os países da América do Sul, é a fiscalização fitossanitária. De acordo com ele, a importância desse tema para o Brasil se dá em dois sentidos.

Um primeiro, explica, é o cuidado em trazer para o país vegetais ou animais que tenham possivelmente tido contato com doenças que são de grande perigo à atividade agrícola. "A vigilância fitossanitária se torna muito importante, porque é uma forma de se preservar as potencialidades do país em termos de agricultura, evitando contaminação de outras áreas". O professor Félix cita com exemplo desse fenômeno a questão da gripe do frango que, em função da queda das barreiras pela globalização, tem se propagado entre vários países.

O outro aspecto fundamental, avalia o professor da UnB, é que essas barreiras fitossanitárias, dentro do agronegócio, tomam também um sentido comercial. "Há impedimento, às vezes, de exportação de um produto, que é feito não em função de existir efetivamente o problema, mas de se levantar hipóteses sobre aquilo, impedindo a entrada". O professor Félix assinala que esse expediente é muito utilizado por vários países e é por isso que o Brasil tem que ter um cuidado muito grande em acompanhar toda a sua produção, "evitando que a gente esteja vulnerável a atitudes protecionistas".