Brasília - Equipes do Exército e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) devem chegar ainda este mês a Anapu (PA), cidade onde a missionária Dorothy Stang foi assassinada, para dar início à demarcação de terras. O anúncio foi feito esta semana durante reuniões com agricultores em Anapu e Altamira para tratar de questões agrárias.
A principal queixa dos agricultores e colonos é pelo atraso na demarcação dos Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS´s), um dos sonhos de Dorothy Stang, e pela demora no trabalho de georreferenciamento das glebas da União no estado, o chamado Plano Pará. Este trabalho, feito com aparelhos de GPS e abertura de picadas na mata, vai definir quem está irregular e quem pode ser incluído nos programas de reforma agrária. Segundo o representante do Incra em Altamira, Bruno Kempner, com o georreferenciamento serão gastos R$ 27 milhões em todo o Pará, mas a área prioritária será Anapu.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Anapu, Gabriel Nascimento, que também participou das reuniões, disse que a situação no município está tensa e há temor de novos conflitos porque as promessas feitas por políticos e governantes logo após a morte de Dorothy não foram cumpridas.
"A grilagem de terras e a extração de madeira em Anapu não está diferente. As pessoas estão desesperadas nos assentamentos. E esse desespero pode acabar mal. Eu sou muito otimista, mas para essa situação tem que haver uma decisão imediata", disse Gabriel. O Sindicato já enviou carta ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, relatando a situação e cobrando do governo federal o cumprimento das promessas.
O procurador da República no estado, Felício Pontes Júnior, que também esteve presente às reuniões, informou que os colonos estão cobrando os créditos de fomento e habitação, prometidos pelo governo federal. "Vamos oficiar aos órgãos federais novamente para tentar acelerar a liberação dos créditos, senão os agricultores continuarão à mercê da ação dos criminosos’, disse Felício.
Além de Anapu e Altamira, o procurador também esteve na gleba Mandacauari, outra área de conflito no estado. Segundo ele, os trabalhadores rurais do local deram prazo até primeiro de setembro ao governo federal para iniciar a demarcação. "Eles prometem fazer sozinhos o trabalho se isso não acontecer", revela Pontes. "É preocupante, porque isso significa que eles vão entrar em áreas reivindicadas por grileiros e vigiada por pistoleiros", acrescentou. A Procuradoria deve enviar ofício também à Polícia Federal pedindo mais segurança na região.
As informações são da Procuradoria da República no Pará