"Não fui coagido", garante Buratti, "e confirmo tudo que falei"

25/08/2005 - 21h50

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O advogado Rogério Buratti manteve hoje (25) as suas três denúncias de financiamento irregular de campanha do Partido dos Trabalhadores. "Confirmo tudo que falei", disse, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga a ligação das casas de bingos do país com a lavagem de dinheiro e o crime organizado. Buratti negou que tenha sido forçado pelo Ministério Público a fazer denúncias na semana passada. "Não fui coagido", esclareceu.

Buratti acusa o ministro da Fazenda, Antonio Palocci de ter recebido propina de R$ 50 mil por mês da empresa Leão & Leão – prestadora de serviço de coleta de lixo da cidade. O pagamento teria sido feito entre janeiro de 2001 e novembro de 2002, período em que Palocci estava em seu segundo mandato como prefeito. Na primeira administração de Palocci, Buratti foi seu secretário de Governo.

Mas na época do suposto pagamento, Buratti era executivo da Leão & Leão. "Nunca vi Palocci pegando dinheiro, nem ouvi ele autorizar alguém. Os recursos saíam da empresa em que fui executivo, eu via a materialidade", ressaltou Buratti. O advogado diz acreditar que Palocci enviava todo o dinheiro ao diretório do PT e não o usava em benefício próprio.

Buratti diz ter ficado sabendo do pagamento de propinas por Ralf Barquete. Ralf era, então, secretário de Finanças de Ribeirão e, depois, trabalhou no Ministério da Fazenda. Morreu no ano passado. Em entrevista coletiva no último domingo, Palocci negou as acusações.

Em documento enviado pelo ministério Público à CPMI e apresentado hoje pelo presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB) durante o depoimento, mais de R$ 4 milhões teriam sido pagos pela Leão Leão à prefeitura de Ribeirão Preto apenas em uma das folhas que supostamente registram pagamentos de julho a setembro de 2002.

A segunda denúncia de Buratti é de que a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 recebeu contribuição de empresas de jogos. Segundo ele, em São Paulo, os donos das casas de bingos ofereceram R$ 1 milhão ao PT e, no Rio de Janeiro, "pode ter sido mais".

A terceira denúncia feita por Buratti é de que a empresa Gtech ofereceu até R$ 16 milhões para serem entregues ao PT durante as eleições de 2002. Em troca, a empresa queria a renovação do contrato com a Caixa Econômica Federal e a nomeação de seus funcionários para cargos na estatal. Além disso, pediria a regulamentação dos jogos no país

De acordo com Buratti, a quantia oferecida ao PT variava de R$ 500 mil a R$ 16 milhões, dependendo do que fosse cumprido. Buratti diz não saber se o contrato entre o PT e a Gtech foi fechado e se o partido recebeu dinheiro da empresa. "Acredito que tenha sido entregue ao diretório do PT em 2002", disse. Para o senador Romeu Tuma, "para onde foi todo esse dinheiro é a grande indagação".

Também em depoimento à CPI, dois dirigentes da Gtech dizem o contrário de Buratti.O ex-presidente da Gtech, Antônio Carlos Lino da Rocha, e o ex-diretor de marketing, Marcelo José Rovai,contam que Waldormiro Diniz pediu R$ 6 milhões para renovar o contrato da empresa com a Caixa Econômica Federal.