Dificuldades persistem nos acordos entre países ricos e pobres na OMC

08/08/2005 - 8h36

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – As reuniões realizadas na sede da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Genebra entre os dias 27 e 29 de julho não facilitaram um maior entendimento entre países ricos e pobres. Os 148 países membros da OMC se reúnem novamente em outubro. Em dezembro, acontece a 6ª Reunião Ministerial da OMC, em Hong Kong, na China.

Nos três dias de reuniões em Genebra, foram apresentados os relatórios dos presidentes dos grupos negociadores, com a indicação dos temas centrais em cada área de negociação. "Com isso se criou uma base, ainda que precária, para seguir as negociações a partir de setembro", avalia o embaixador. Para tentar avançar as negociações entre esses países, em julho do ano passado, no chamado pacote de julho, foram retirados da agenda,temas complexos como compras governamentais e investimentos, e foram centradas as negociações em Agricultura, Acesso a Mercados de produtos Não Agrícolas (NAMA) e Serviços. Ainda assim, a agente teve pouco avanço.

Segundo Clodoaldo Hugueney, chefe designado da Missão do Brasil em Genebra, há consenso de que sem progressos em agricultura, não será possível avançar em nenhuma outra área da negociação. A chamada Rodada Doha, lançada na 4ª Reunião Ministerial da OMC em Doha, capital do Catar em 2001, tinha a proposta de ser a rodada do desenvolvimento.

"A Agricultura é o motor da rodada. Se não há progresso em Agricultura, as outras coisas não andam, e os progressos dependem dos Estados Unidos, da União Européia e do G10, que são os países que mantém as políticas distorcivas", analisa."Qual é o incentivo para o Brasil por exemplo, para fazer avanços em produtos Não Agrícolas, em serviços, em aumentar a sua contribuição se não tem claro o que vai ganhar em Agricultura?", afirma o embaixador brasileiro.

Apesar das cobranças, o chefe da delegação brasileira na reunião do Conselho Geral garante que em Genebra foi amplamente reconhecido que o único grupo que tem posições concretas e que colocou propostas sobre a mesa até a gora, foi o G20. "A forma de avançar nas negociações é reagir às propostas do G20", acredita Hugueney. No último dia da reunião, o embaixador falou em nome do G20 e chamou atenção para a crise nas negociações.

"Eu disse: a gente não pode achar que está tudo como dantes. Esta não é a realidade. O que está acontecendo aqui é algo sério, algo grave. A situação é crítica. Não é uma crise total. Ainda é possível retomar o tempo perdido e ter sucesso em Hong Kong se houver um ânimo negociador, principalmente por parte dos Estados Unidos e da União Européia na área agrícola. Mas o tempo que temos para fazer isso é muito pequeno" relatou em entrevista à Agência Brasil.

A agenda dos comitês de negociação é retomar os trabalhos a partir de setembro. Nova reunião do Conselho Geral acontecerá em outubro. Também estão previstas pelo menos duas reuniões mini-ministeriais antes da cúpula de Hong Kong que, teoricamente, deveria fechar a Rodada de Doha. "Acho que é preciso aproveitar este período de agosto para todo mundo refletir, considerar onde devem ser feitos os movimentos e voltar em setembro com um novo espírito, Não adianta tentar fazer avanços se não há uma disposição negociadora, sobretudo por parte dos dois grandes, Estados Unidos e União Européia", conclui o embaixador Clodoaldo Hugueney.