Indicação de mil mulheres para Nobel torna visível trabalho feminino pela justiça, diz coordenadora

03/07/2005 - 18h03

Melina Fernandes
Da Agência Brasil

São Paulo – A indicação de mil mulheres para o Prêmio Nobel da Paz, anunciada semana passada, é um ato simbólico ao qual se junta o mérito de dar visibilidade à busca de justiça social das mulheres no mundo. Essa é a opinião de Clara Charf, coordenadora do projeto no Brasil, que anunciou na última quinta-feira (30), em São Paulo, as 52 brasileiras indicadas. Foram escolhidas mulheres de 153 países e o Brasil teve o terceiro maior número de indicações, atrás apenas da Índia, que concorrerá com 91 mulheres, e da China, com 81 – países que tinham cotas estabelecidas de acordo com as suas grandes populações.

Clara Charf considera que o valor da sugestão é o fato de tornar público o trabalho que essas pessoas fazem, o que estimula que outras avaliem como se pode lutar pela justiça social. "Essas mulheres são qualificadas porque são lutadoras. O critério principal para ser indicada é de mulheres que têm trajetória de luta contra todas as causas que oprimem o ser humano. Podia ser então a luta pela nutrição, contra a violência, pelo direito a terra; ou ainda uma quilombola ou uma indígena, como podia ser a luta da ciência, inventando alguma vacina que beneficiasse o povo", afirma ela.

"Não é fácil escolher 52 pessoas, que era a nossa cota, e nos outros países foi o mesmo processo, então, a coisa interessante foi como a sociedade se mobilizou para que as pessoas fossem reconhecidas, apresentadas e depois selecionadas."

Para isso, formou-se no Brasil um comitê executivo criado para trabalhar essa proposta de Nobel coletivo. "Nós recebemos de entidades, de redes e de pessoas 262 indicações no país. Daí se criou uma comissão de seleção e saíram esses nomes", informa Clara.

Clara explica o prêmio é coletivo e, se for concedido ao projeto, as mil mulheres serão premiadas. Se ele for concedido a esse projeto, "o fundo que eles (a Fundação Nobel) dão será transformado, provavelmente, em uma fundação que ajude projetos de mulheres".

Na opinião da coordenadora, o trabalho de muitas mulheres não é compreendido no país. Ela cita como exemplo o projeto desenvolvido pela arqueóloga Niège Guidon, no Piauí. "Muita gente no Brasil não compreende seu trabalho porque pensa que ela defende árvores, bichos e vegetação", ressalta. "Niège desenvolve um trabalho pioneiríssimo."

Em outubro sai o resultado do Nobel pela Paz. Ganhando ou não, Clara afirma que Associação 1000 Mulheres para o Prêmio Nobel da Paz, uma organização não-governamental (ONG) suíça, vai trabalhar para fazer um livro com história das 52 brasileiras, "porque isso vai ficar para a história".

Em 104 anos de existência do Prêmio Nobel da Paz, apenas 13 mulheres foram ganhadoras do título que, tradicionalmente, é entregue em Oslo, capital da Noruega, no dia 10 de dezembro, data de aniversário de morte do fundador do prêmio, o sueco Alfred Nobel. A divulgação dos nomes vencedores ocorre em outubro, normalmente. A indicação coletiva é inédita. O prêmio é destinado para pessoas, individualmente, e não para organizações.