Irene Lôbo
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O aumento de imigrantes bolivianos no Brasil é uma das conseqüências sociais da crise política que afeta a Bolívia. A afirmação é do professor e especialista em ciências políticas pela Universidade de São Paulo (USP) Günther Rudrit. A crise da Bolívia culminou com o segundo pedido de renúncia do presidente Carlos Mesa, na noite de ontem (6), a ser ainda avaliado pelo Congresso.
Segundo Rudrit, muitos bolivianos vivem principalmente nos estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul. "Há uma grande quantidade de bolivianos entrando em território nacional sem qualificação, sem emprego. Em Campo Grande há muitos deles pedindo esmolas na rua, o que aumenta a pressão social por aqui", explica o professor. Ele alerta que a situação pode causar um aumento da violência urbana no Brasil.
Uma outra conseqüência da crise boliviana que já afeta o Brasil e outros países da América do Sul diz respeito ao mercado de gás e petróleo, os hidrocarbonetos. Para o especialista, a possibilidade de um corte no fornecimento de gás poderá afetar seriamente a economia brasileira. A solução, segundo ele, será procurar novas alternativas em países como o Peru ou em outros locais do território nacional, como a bacia de Santos.
"A Petrobrás já disse que paralisou qualquer plano de investimento para reavaliar a situação. Nos termos técnicos, isso significa que não vamos mais investir e que vamos buscar outras alternativas. A Petrobrás, que tem altos investimentos, sofre o risco desses postos (de petróleo) serem nacionalizados, e não poderá investir mais lá porque os impostos serão tão altos que quase não haverá retorno financeiro", afirma.
Segundo Rudrit, o governo brasileiro terá ainda de lidar com uma terceira conseqüência da crise boliviana: terá de decidir se apóia ou não uma maior autonomia para regiões do país – um desejo de parte da população que está nas ruas protestando. "O governo brasileiro cairá num dilema. Uma separação boliviana, de imediato, seria economicamente mais vantajoso para o Brasil. Contudo, politicamente o governo brasileiro entraria numa situação delicada."