China poderá ser grande importadora de algodão do Brasil

02/06/2005 - 13h23

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – A China consome mais de um terço do algodão mundial e importa mais que 40% do volume comercializado no mundo. As exportações da China no setor têxtil somaram US$ 84 bilhões no ano passado, contra US$ 2 bilhões do Brasil, que batia um recorde histórico. "A produção e exportação de algodão, cultura que o Brasil está expandindo, pode crescer muito na esteira do avanço mundial dos tecidos e confecções chineses", disse o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Antonio Esteve.

Para Esteve, a indústria têxtil chinesa, ao mesmo tempo em que pode ameaçar o setor no Brasil, pode ser um grande mercado para os produtores de algodão do país. "A China encanta pela capacidade aparentemente inesgotável de consumir e assusta pela voracidade com que produz", disse Esteve referindo-se, especialmente, à área têxtil chinesa. "Com o fim das cotas internacionais, as exportações da China explodiram, a ponto de Estados Unidos, União Européia e Brasil falarem em restringir a entrada de seus produtos", acrescentou.

Em entrevista à Agência Brasil, Antonio Esteve, que participou do seminário Agricultura Chinesa – Evolução, Tendências e Impacto para o Comércio Internacional, apontou os desafios dos produtores brasileiros para exportar mais para os chineses e revelou que, atualmente, o mercado chinês representa muito pouco das exportações brasileiras do produto. O empresário afirmou que a adoção de salvaguardas contra os produtos chineses não deverá ter impacto nas exportações de algodão brasileiro para o país e que devem se concentrar em uma disputa com os Estados Unidos. "Uma guerra entre titãs", classificou.

Agência Brasil – O senhor mencionou o potencial crescimento da demanda da China por algodão, principalmente pelo desempenho da sua indústria têxtil. De que forma o Brasil pode entrar nesse mercado?
Antonio Esteve - Em um primeiro momento (melhorando) nossa qualidade. Os chineses gostam de importar algodão com menos folhas, mais limpo, de melhor padrão de qualidade e o Brasil está produzindo um algodão de padrão médio, que pode ser facilmente melhorado através de um processo de colheita e beneficiamento um pouco mais cuidadoso. Na medida em que a gente consiga melhorar esse padrão de qualidade, vamos ganhar mais acesso a esse mercado importante que é essencial para crescer nossas exportações. Sem a China, a gente não vai conseguir ampliar nossa produção e nossas exportações. É importante a gente adequar o nosso produto à demanda da China.

Agência Brasil – No momento, a China representa quanto nas exportações de algodão brasileiro?
Antônio Esteve - No ano passado, o Brasil exportou 330 mil toneladas e apenas 15 mil para a China, ou seja, um volume de 5%, muito baixo. Se você considerar que a China importar 1,5 milhão de toneladas e só importou 15 mil do Brasil - um por cento - é muito pouco. Nós temos que melhorar esta performance.

Agência Brasil – Em relação aos produtos têxteis, o Brasil estuda salvaguardas contra os produtos chineses. O senhor acredita que a adoção dessas salvaguardas possa prejudicar as exportações de algodão para os chineses?
Antonio Esteve – Acho que não. A própria disputa existe com os Estados Unidos, que é o maior exportador de algodão para a China. Acho que é a guerra entre os titãs, Estados Unidos e China. Acho que o Brasil fica à margem desse problema.