Secretário afasta delegada suspeita de ligação com grupo de extermínio no Ceará

01/06/2005 - 13h42

Olga Bardawill
Repórter da Agência Brasil

Fortaleza - O secretário de Segurança Pública do Ceará, Wilson Nascimento, determinou o afastamento da delegada Cândida Brum da Delegacia de Apoio ao Turista (DAT). Ela é suspeita de ligação com um grupo de extermínio que vem sendo investigado há dois anos pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal.

Cândida Brum aparece, em uma gravação feita com autorização judicial, conversando com o comandante da 1ª Companhia do 5º Batalhão da Polícia Militar, major José Ernani de Castro Moura. Ele é apontado como chefe de um grupo formado por policiais militares que atuava como uma milícia privada, a serviço de uma rede de farmácias de Fortaleza.

Feitas em segredo de jutiça, as investigações vieram à tona quando foi divulgada na televisão parte do conteúdo das gravações em que o major aparece acertando com um informante detalhes da execução de um homem suspeito de assalto a uma farmácia. Segundo as informações, o grupo supostamente comandado pelo major também "vendia" segurança e até executava missões oficiais, como a desocupação de terrenos invadidos por sem-teto.

As investigações, que começaram em 2002, com a morte do garçom Antonio Mendes de Araújo, confundido com um assaltante, levaram à descoberta de mais mortes consideradas suspeitas: todas as vítimas eram acusadas de assalto a uma rede de farmácias.

O major já foi afastado do cargo por ordem do secretário Wilson Nascimento, que afirma jamais ter sido informado das investigações, já que se trata de um processo que tramita em segredo de justiça.

Cândida Brum não quis falar com a imprensa, mas o superintendente da Polícia Civil do Ceará, Jaime Pessoa, informou que já foi instaurado "procedimento interno" para apurar se a delegada está envolvida no caso.

O promotor de Justiça do Ceará, José Francisco de Oliveira Filho, integrante da força-tarefa do Ministério Público Estadual, que também está investigando o caso, considerou ilegal a divulgação do conteúdo das fitas. Segundo o promotor, as gravações foram feitas com autorização judicial e não poderiam ter sido abertas ao público porque ainda estão sob ‘segredo de justiça’ determinado no processo, o que, na sua opinião, "feriu a privacidade das pessoas".

José Filho quer saber onde estão as fitas apresentadas pela imprensa. Ele disse que nem o secretário de Segurança, nem os membros do Ministério Público estadual tiveram acesso às gravações. O promotor informou que vai enviar ofício à PF para saber onde estão as fitas.