Spensy Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O empresário brasiliense Paulo Mota conta que ficou irritado da primeira vez que ouviu a crítica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Às vezes o cara está no bar xingando o banco, os juros, o cartão de crédito dele, mas no dia seguinte é incapaz de levantar o traseiro e ir ao banco mudar a sua conta para um mais barato", afirmou o presidente, em abril, durante cerimônia em que sancionou a criação do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado. "Num primeiro momento, achei a declaração equivocada", explica Mota.
Tempos depois, o empresário conta que, no domingo seguinte, estava em casa e assistiu na TV a um debate com o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini: "Ele fez uma interpretação da declaração do presidente. Lembrou que as cooperativas de crédito são uma alternativa aos juros altos ainda em construção, mas, se fizermos o trabalho de formiguinha, daqui a alguns anos, quando tiverem mais associados, vão poder influir muito no país, criando concorrência com os bancos".
Logo no dia seguinte, Mota procurou a Credindústria, Cooperativa de Crédito da Indústria do Distrito Federal. Ele já era associado, mas sua conta estava inativa. "Eu sempre acreditei na importância do cooperativismo, mas trabalhava com outros bancos. Agora, estou fazendo pelo menos três movimentações por semana na cooperativa", conta.
Mota explica que, devido ao porte de seus negócios, do ramo gráfico, seus fornecedores e outros bancos ainda oferecem taxas de juros mais vantajosas do que as que a Credindústria é capaz de suportar. "Um dia, quando tivermos, talvez, dez vezes o total de associados que temos hoje, vai ser possível concorrer efetivamente. Agora, é trabalhar para o futuro", explica.
Literalmente, o empresário "saiu da cadeira" para apoiar a cooperativa. A Credindústria tem apenas uma agência, enquanto os bancos com que Mota costuma trabalhar oferecem atendimento por telefone e internet. "Depois da declaração do Berzoini, interpretei que a crítica do Lula foi correta. E corri atrás."