Spensy Pimentel
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Entre as cooperativas de crédito associadas a categorias profissionais, têm crescido nos últimos anos as formadas por agricultores familiares. Em todo o setor, o crédito rural responde hoje por 32% do total, segundo dados do Banco Central. A maior rede de cooperativas de crédito rural para agricultores familiares do país luta atualmente para ter maior participação no próximo Plano Safra da Agricultura Familiar, além de várias outras modificações nas regras do sistema financeiro para que possam ampliar sua atuação na economia.
"O ambiente é propício para discutir com o governo e a sociedade a ampliação de nosso espaço. As cooperativas de crédito podem ser fundamentais no desenvolvimento das economias locais, o que hoje é crucial para a geração de empregos e renda", explica Vanderley Ziger, diretor presidente da Ancosol (Associação do Cooperativismo de Crédito Familiar e Solidário).
A Ancosol reúne 131 cooperativas de 11 estados, com um total de 104.250 associados atualmente. O patrimônio líquido dessas cooperativas reunidas chega a quase R$ 50 milhões. No ano passado, as cooperativas da Ancosol conseguiram emprestar R$ 150 milhões do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Este ano, elas esperam chegar a R$ 250 milhões. O montante não chega a 2% do total emprestado pelo programa, segundo os cálculos de Ziger.
As cooperativas de crédito são reconhecidas pelo atual governo como um dos pilares de uma política de microcrédito e microfinanças destinada a fortalecer o mercado interno e o consumo popular. Segundo Ziger, as taxas de juros cobradas pelo Cresol (Sistema de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária), entidade de origem do agricultor, variam de 4% ao ano, para linhas do Pronaf, a 5% ao mês, no cheque especial – mesmo sendo as mais altas, ainda estão muito abaixo das taxas cobradas pelos bancos comerciais.
Em média, Ziger diz que as cooperativas de crédito conseguem hoje no Brasil prestar seus serviços por 30% do valor cobrado pelos bancos convencionais. Segundo o agricultor, o principal fator que possibilita essa diferença no "preço" do dinheiro é o "controle social" que a cooperativa exerce. "Atuamos em pequenas comunidades, conhecemos nosso associado e temos com ele um laço que o banco não consegue ter. Por isso, conseguimos cobrar menos", explica.
O resultado desse alcance fica claro quando se analisa o perfil do público atendido pelas cooperativas da Ancosol. "Cerca de 80% dos nossos cooperados nunca tinham tido acesso ao crédito do Pronaf. São assentados, meeiros, arrendatários que não teriam como cumprir todas as exigências feitas pelos bancos normais", explica Apesar de todas essas vantagens, Ziger conta que a participação total das cooperativas no Pronaf ainda não chega a 2% do montante emprestado.
No caso de linhas de crédito para a agroecologia, o Cresol chega a bancar subsídios com receita própria. "Isso serve para reafirmar nossas prioridades. Hoje, mais de 50% do Pronaf servem simplesmente para financiar as vendas das multinacionais de sementes, agrotóxicos e outros insumos. O dinheiro apenas passa pela conta do agricultor", explica Ziger. Para ele, o Pronaf deveria priorizar créditos a longo prazo para investimentos nas propriedades, em vez de financiamento para custear a safra (compra de sementes, adubos etc.).
Na defesa por mudanças no Pronaf, Ziger critica o monopólio estabelecido pelo Banco do Brasil em torno do crédito do programa. "As cooperativas só conseguem participar do processo porque, no papel, acontece uma espécie de terceirização de serviços ", conta. "Hoje, se o agricultor disser para o Banco do Brasil que não vai usar adubo químico, ou que não vai usar tal semente produzida por tal empresa, ele não vai conseguir o financiamento. O crédito está atrelado a um pacote tecnológico."