Agroexportação faz Brasil voltar a 1930, afirma economista

01/06/2005 - 18h08

Daniel Merli
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Com a exportação agropecuária liderando o crescimento econômico, o Brasil volta 75 anos no tempo, na opinião de Leda Paulani, professora de economia na Universidade de Campinas (Unicamp). "O dinamismo da economia voltou a depender da exportação. Isso faz com que retornemos a antes de 1930, quando houve a revolução industrial no Brasil".

Segundo Leda, a preferência pelo setor exportador faz com que o Brasil fique dependente do mercado externo e não de suas próprias condições. "Pelo menos, o professor Celso Furtado ensinou assim. Até 1930, éramos ditados por dinâmicas externas", afirma. "A partir de então, já tínhamos mercado consumidor e setor industrial, então pudemos conduzir a dinâmica da economia daqui de dentro".

Leda Paulani comentou a declaração feita hoje por Glauco Arbix, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Em entrevista à Agência Brasil, Arbix declarou que a liderança do setor agroexportador mostrava a necessidade de investir em indústria e tecnologia.

"O que o Arbix falou está totalmente correto. Ele só não disse que, com essa política macroeconômica não adianta investir nesses setores", contestou Leda, que também é presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política. "Como vai investir em tecnologia com esse ajuste fiscal? Como dinamizar a indústria com essa taxa de juro? Só sobra exportação".

No primeiro trimestre deste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) teve crescimento de 0,3% em comparação com o período anterior. Mas o único setor que apresentou crescimento foi a agropecuária (como mostra gráfico abaixo). A produção agrícola e de gado teve um aumento de 2,6% em relação ao trimestre anterior. Indústria e serviços tiveram queda. De 1%, o primeiro e 0,2%, o segundo.

Outra forma utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para decompor o PIB mostra que as exportações também guiaram o crescimento. Entre os componentes do PIB, o único que segue acelerando seu crescimento é exportações. As altas, em comparação ao trimestre anterior, continuam se elevando (3,3% no final do ano passado e 3,5% nos três primeiro meses de 2005).

Já importação, consumo das famílias, consumo do governo tiveram queda, ou crescimento menor que o do último trimestre (ver gráfico abaixo). Foi o caso de importação, que cresceram 2,3% – menos que nos últimos três meses de 2004 (3,2%).