Negociação com invasores será conduzida pela matriz do BID em Washington

31/05/2005 - 16h12

Lílian de Macedo
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A assessoria de imprensa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) informou, há pouco, que toda a negociação com os militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que invadiram hoje a sede da instituição em Brasília, vai ser conduzida pela matriz, em Washington.

Neste momento, as famílias - cerca de 350 -, que vieram da região das barragens de Serra da Mesa e Cana Brava, em Goiás, estão montando acampamento no local. Elas derrubaram o portão do prédio com um dos quatro ônibus em que viajaram até a capital federal. Dez carros da Polícia Militar estão na área externa do banco, no Setor de Embaixadas Norte.

Segundo o MAB, são 630 as famílias atingidas em Serra da Mesa e 580 em Cana Brava. Elas reivindicam terra para plantar e, antes da liberação dos lotes, ajuda de custo de R$ 300 por mês, crédito de R$ 3.000 para investir na produção, revisão das indenizações e energia elétrica onde forem assentadas. As famílias pedem também que o governo suspensa as licenças do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) e da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para construção das barragens.

Os agricultores exigem que o BID pressione a empresa belga Tractebel Energia para o pagamento da dívida social com os atingidos pela barragem de Cana Brava. De acordo com a assessoria do MAB, o pagamento das indenizações deveria ter sido feito pela Tractebel Energia há três anos, mas só 25% das 986 famílias que abandonaram as casas foram ressarcidas.

A Tractebel é a maior empresa privada do setor elétrico brasileiro, subsidiária da Suez-Tractebel, com sede em Bruxelas. Com a cheia dos lagos, muitas comunidades ficaram isoladas e perderam o acesso à escola e à saúde. As famílias dos pescadores da região, prejudicados pelo alagamento, também não foram indenizadas. Centenas de famílias atingidas pelas barragens já haviam invadido as usinas de Cana Brava e Sera da Mesa por três vezes, para pressionar a empresa.

A barragem teria também, segundo o MAB, causado focos de dengue na região e contaminação por raiva em mais de 1500 cabeças de gado. O movimento denuncia ainda que o isolamento das comunidades faz com que cerca de 150 crianças no município de Cavalcante, também atingido pela barragem, deixem de ir à escola.