Brasília, 6/4/2005 (Agência Brasil - ABr) - O diretor do Departamento de Jornalismo da Universidade de Havana, Raúl Garcés, disse nesta quinta-feira que "as rádios sofrem de desinteresse total em relação ao produto, ao programa, ao ouvinte e à audiência".
Em palestra no primeiro dia do seminário internacional A Radiodifusão Pública no Desenvolvimento e na Cidadania, que se realiza até sexta-feira (8), Garcés acrescentou que "as novas tecnologias não propõem uma maneira nova de fazer noticia ou jornalismo, só de fazê-las mais agilmente" e que "o modelo jornalístico continua sendo velho e inadequado às necessidades das sociedades".
Ao lado do pesquisador Steven Spencer, ex-diretor da Rádio Pública Nacional de Ohio (EUA), Garcés discutiu as principais tendências da programação radiofônica na América Latina; a crise do rádio informativo e do jornalismo interpretativo; o impacto das novas tecnologias no conteúdo radiofônico, nos modos de produção e no perfil dos profissionais; a programação a serviço do cidadão e da diversidade; e a interatividade com o ouvinte sob o aspecto das novas tecnologias e da globalização.
De acordo com Garcés, as novas tecnologias podem trazer os mesmos erros discursivos da rádio analógica. "A tecnologia é muito importante, obviamente está potencializando a possibilidade de fazer uma rádio muito mais democrática. As possibilidades que a internet e as rádios digitais oferecem são múltiplas, mas são também um risco, se nós não formarmos profissionais que sejam capazes de responder às demandas da tecnologia - há que se pensar no novo profissional de rádio de modo distinto e como uma pessoa ligadas nas transformações tecnológicas, o que exige uma pessoa que entenda de edição digital, que saiba interagir com o meio multimídia e com a rádio tradicional"
O professor disse ainda que o aumento do fluxo de informações nas redações só contribuiu para a burocratização da notícia e cria o que ele denominou de "jornalista instantâneo", que "preocupa-se apenas em gerar notícias imediatas e não informações interpretativas". Para o professor, "esse aumento do fluxo de informações nas redações não se reflete em uma melhor produção da notícia".