Testemunha de acusação mostra influência de Hildebrando no Acre

13/03/2005 - 9h30

Débora Barbosa
Da Agência Brasil

Brasília - Mais duas testemunhas de acusação depõem neste domingo no julgamento do ex-deputado Hildebrando Pascoal na Justiça Federal. O depoimento do policial militar Sebastião Uchôa, teve início ontem e continua nesta manhã. Outra testemunha também será ouvida pelo júri popular. O julgamento já dura seis dias.

Pascoal é acusado de formação de quadrilha e homicídio qualificado pela morte do policial militar Walter Ayala, em setembro de 1997. O policial era uma das principais testemunhas da investigação sobre a atuação de um esquadrão da morte no Acre, do qual o ex-deputado federal é suspeito de ser o chefe.

Nessa sexta-feira (11) o desembargador do Tribunal de Justiça do Acre, e atual Ouvidor Agrário Nacional, Gercino Filho, afirmou já ter recebido ameaça de morte do irmão do ex-deputado, Sete Pascoal, durante uma visita a seu gabinete, no dia 04 de setembro de 1999. Neste dia, o irmão de Hildebrando afirmou que Gercino era inimigo da família. O desembargador foi Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Acre, de fevereiro de 1997 a janeiro de 1999.

Dois meses depois de assumir o cargo, ele contou que se reuniu com autoridades do Acre, e relatou que tinha que ser tomada alguma providência sobre esquadrões da morte no estado. Mas, para evitar confrontos com Hildebrando Pascoal, as autoridades não tomavam nenhuma providência. Diante da negativa das autoridades do Acre, Gercino Filho buscou apoio no Conselho dos Direitos da Pessoa Humana.

Segundo ele, o coronel Hildebrando sempre dizia que o Procurador da República Luiz Francisco Fernandes de Souza, e o próprio desembargador, eram seus inimigos. Gercino Filho lembrou ainda que Hildebrando Pascoal ajuizou uma ação popular, protocolada em 19/02/1998, ou seja, depois da morte do policial civil Walter Ayala, ocorrida em setembro de 1997.

Além disso, Gercino contou que ficou sabendo de uma escuta telefônica feita pela Polícia Federal, que gravou o telefonema de Hildebrando a uma pessoa, da qual ele não disse o nome. Na ligação, Hildebrando dizia que esperaria a situação "esfriar" para dar um tiro em Gercino.

De acordo com o desembargador, Hildebrando tinha influência em boa parte do governo estadual, o que impedia ações por parte do poder público, da sociedade civil, e, inclusive, que jornais locais veiculassem notícias contrárias a ele. Gercino disse que, na delegacia, por exemplo, o ex-deputado determinava o que deveria ou não ser apurado. Segundo ele, as Polícias Militar e Civil do estado nada faziam, porque eram subordinadas ao coronel.

Após a morte do irmão de Hildebrando Pascoal, segundo Gercino Filho, o número de homicídios na forma de execução aumentou no estado do Acre. Na época, circulou um cartaz de "Vivo ou morto", que oferecia 50 mil, na moeda da época para quem encontrasse o autor desse crime.

Além de Gercino Filho, a Justiça Federal ouviu o frentista Antônio Batista dos Santos, e tem de ouvir ainda as testemunhas de defesa para depois iniciar os debates.

Colaborou Carolina Pimentel