Cecilia Jorge
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O relatório anual da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife), órgão das Nações Unidas, que está sendo divulgado em diversos países hoje, aponta para a necessidade de integrar as políticas de prevenção e repressão às drogas. "Só a repressão nunca resolveu o problema. Isso é reconhecido por todos, inclusive pelas autoridades policiais", afirma o membro titular da Jife e diretor do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), Elisaldo Carlini.
Na opinião de Carlini, ações de repressão que não estão acompanhadas de esclarecimento à população apresentam resultados fracos. "O importante sempre é fazer através do convencimento das pessoas que determinado comportamento é inadequado, é prejudicial à saúde", disse.
Ao avaliar a política de combate às drogas no mundo, o relatório diz que os governos costumam priorizar apenas uma parte do problema: a oferta de entorpecentes. "Isso pode produzir resultados em curto prazo, com grandes apreensões de drogas ilícitas, mas não tem efeito a longo prazo, pois novas fontes dessas substâncias se materializam para atender uma demanda crescente", alerta o presidente da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (Jife), Hamid Ghodse, em texto de apresentação do relatório.
Para a Jife, a redução da demanda por drogas requer, além de ações preventivas, propostas de desenvolvimento alternativas que substituam o papel da produção de entorpecentes na economia de determinada região, por exemplo.
O relatório diz que, "quando uma droga se torna mais disponível, um maior número de indivíduos vulneráveis são expostos a ela, a probabilidade de experimentá-la aumenta e os problemas associados ao seu uso ficam mais proeminentes". Para a instituição das Nações Unidas, também não é suficiente que os governos realizem apenas campanhas preventivas. É preciso priorizar a oferta de tratamento da dependência química, defende a Jife.
Em relação ao Brasil, o relatório ressalta os esforços para reprimir o tráfico de drogas e o recente aumento das apreensões de cocaína. Segundo o documento, Brasil, Equador e Venezuela são os países da América do Sul mais afetados pelo tráfico dessa droga. O informe revela também que é cada vez maior a quantidade de cocaína procedente do Brasil e da Colômbia que chega aos países africanos de língua portuguesa, como Angola e Moçambique, e também à África do Sul.
A aprovação pelo governo federal da Estratégia Nacional de Combate à Lavagem de Dinheiro, em janeiro de 2004, também é citada como uma medida positiva. Mas o relatório alerta para o isolamento das polícias estadual e federal. "A falta de cooperação entre as forças policiais dos níveis federal e estadual limita gravemente a eficácia desses esforços", diz o documento.