Líderes comentam resultado da eleição para a presidência da Câmara

15/02/2005 - 8h59

Iolando Lourenço e Gabriela Guerreiro
Repórteres da Agência Brasil

Brasília - A derrota do candidato oficial do PT à Presidência da Câmara dos Deputados, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), foi uma demonstração de que a maioria dos deputados está insatisfeita com as ações promovidas pelo governo federal perante o Legislativo. Líderes da base aliada e da oposição reconheceram, após a vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE), que existe uma diferença grande entre o que pensa o Executivo e o que desejam os parlamentares.

"O governo hoje conta com forças políticas que não são de sua inteira confiança. Acho que houve infidelidade e condução inadequada da campanha do Greenhalgh. Além disso, há insatisfação dos parlamentares em uma série de questões", disse o líder do PSB na Câmara, deputado Renato Casagrande (ES).

O vice-líder do governo na Câmara, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), atribuiu a derrota do candidato oficial a um "alto índice de traição" dos partidos da base aliada. Albuquerque defendeu uma avaliação dos partidos que compõem a base aliada como forma de evitar surpresas futuras. "Vamos ver se os partidos que estão no governo merecem continuar".

Para o vice-líder, o "revanchismo" contra o governo poderia ser feito de outra forma, e não na escolha do novo presidente da Câmara. Albuquerque também criticou o lançamento de candidaturas avulsas à presidência da Câmara. Ele considerou a vitória de Severino Cavalcanti uma violação do princípio da proporcionalidade - que assegura aos partidos a distribuição de cargos na Mesa Diretora de acordo com o tamanho de suas bancadas. "Isso abre um novo ciclo na Câmara de desrespeito às regras da proporcionalidade, onde cada partido a partir de agora pode fazer o que quiser", criticou.

Com a derrota de Greenhalgh, o PT perdeu o único cargo a que teria direito na Mesa Diretora da Câmara - a presidência. Por ser a maior bancada, com 91 deputados, o partido também poderia ocupar uma das quatro suplências da Mesa. Para consolidar a vitória do candidato oficial, o PT abriu mão da suplência em prol do apoio da bancada do PDT, e cedeu a vaga ao partido. Beto Albuquerque considerou "uma anomalia" a ausência do PT na Mesa. "Não existe parlamento nenhum no mundo onde a maior bancada não tenha representante na Câmara", ressaltou.

O candidato derrotado do PFL, José Carlos Aleluia, atribuiu a derrota de Greenhalgh à falta de consistência da candidatura. "Desmoronou porque não tinha consistência, e o governo tem uma base parlamentar fisiológica". Já Virgílio Guimarães (PT-SP), também derrotado no primeiro turno, disse que havia na Casa o anseio por mudanças - o que o motivou a lançar a
candidatura avulsa, contrária à indicação de Greenhalgh. "A candidatura de Severino foi feita dentro das normas da Casa. Nunca tive atritos com o PT. Todos têm que ver com naturalidade as regras do jogo, onde as candidaturas avulsas são permitidas", concluiu.