FSM lança chamada global de ação contra a fome e a pobreza

26/01/2005 - 6h02

Aloísio Milani
Enviado especial

Brasília - Será lançada nesta quinta-feira (27), durante o Fórum Social Mundial em Porto Alegre, uma campanha global de ação contra fome e pobreza. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará presente para manifestar seu apoio à Chamada Global.

A campanha é desenvolvida por centenas de organizações e movimentos sociais internacionais e tem por objetivo contribuir para a erradicação da pobreza e a realização das Metas do Milênio propostas pela Organização das Nações Unidas.

O coordenador da campanha, Adriano Campolina, explicou, em entrevista à TV Nacional, as principais propostas da campanha.

TV Nacional: Como começou a campanha contra fome e pobreza no mundo inteiro?

Adriano Campolina: Olha, a chamada global contra a pobreza, chamada de ação, começou em setembro com a iniciativa de centenas de organizações da sociedade civil, de sindicatos, organizações não-governamentais (ONGs), de igrejas e movimentos sociais, que se colocaram juntos para tentar enfrentar o dilema da pobreza. É uma iniciativa apartidária, envolve milhões de pessoas, de organizações que representam milhões de pessoas no mundo inteiro. E nós estamos tentando enfrentar e dar passos concretos, sair da retórica vazia de combate à pobreza e forçar os governos nacionais e as organizações internacionais a realmente tomarem medidas efetivas para combater a pobreza.

TV Nacional: Quais são as linhas de ações e propostas da campanha?

Campolina: Nós temos propostas, principalmente, em três áreas. Primeiro nos parece que a questão da ajuda humanitária é fundamental. Se você olhar hoje no mundo, você tem cerca de US$ 59 bilhões que são gastos em ajuda humanitária em diversas regiões. Entretanto, só em subsídios, os Estados Unidos e a União Européia gastam US$ 360 bilhões por ano. Portanto, há um descompasso com relação ao gasto em subsídios e com a própria guerra do Iraque. Nos parece fundamental olhar isso de um ponto de vista de combate à pobreza e perceber que é necessário aumentar a ajuda humanitária e não apenas retirar as condicionalidades, ou altos preços, que muitas vezes os países pobres têm que pagar para acessar a ajuda.

Por exemplo, muitas vezes os países pobres são forçados pelo Banco Mundial e pelo FMI a liberalizar as suas economias, abrir seus mercados de forma unilateral para conseguir ajuda. Nós queremos mais ajuda e uma ajuda sem condições. Em segundo lugar, para nós é fundamental que olhemos para a questão da dívida. A quantidade de milhões de dólares que os países pobres têm que enviar em serviços da dívida todos os anos seria suficiente para implementar tantas políticas públicas em nível nacional, que seriam mais importantes para combater a miséria do que você simplesmente enviar esse dinheiro para banco internacional, para o sistema financeiro internacional.

Finalmente, a questão do comércio é da maior importância. Se você observar a importância do comércio, o benefício que ele pode gerar, verá como é que as regras injustas de comércio que hoje dominam a Organização Mundial do Comércio e outros acordos comerciais vêm permitindo que Estados Unidos e União Européia façam dumping. Ou seja, exportem produtos a preço menor do que o custo de produção e, portanto, reduzam a possibilidade de renda de agricultores pelo mundo afora. Nos parece fundamental reverter essas regras injustas por um lado e, por outro lado, que as regras de comércio não impeçam ou não criem obstáculos para que os governos nacionais consigam implementar as políticas públicas necessárias para combater a miséria.

TV Nacional: Como será esse evento que vai acontecer amanhã e que contará com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva?

Campolina: No dia 27 nós estaremos lançando a chamada global, aqui em Porto Alegre, no estádio Gigantinho. Nós vamos contar com a presença do presidente Lula, que vai se colocar durante o nosso lançamento global. Basicamente o que nós vamos fazer é apresentar ao presidente e à sociedade a nossa campanha. Dizer quais são os elementos fundamentais que têm nos orientado a organizar a campanha, as três áreas de ação. E, principalmente, dizer ao presidente Lula e à sociedade que 2005 é um ano fundamental para o combate à pobreza. Nós teremos em 2005 a reunião do G-8 na Inglaterra, nós teremos também a Cúpula das Nações Unidas sobre as metas do milênio, nós teremos também a Conferência Ministerial da OMC. Portanto, 2005 é um ano em que as lideranças globais podem efetivamente tomar decisões importantes para combater a pobreza.

Vamos dizer isso ao presidente e esperamos também em receber a solidariedade do presidente Lula, com sua importância como liderança global, para essa campanha. Além disso, vamos lançar a campanha para a sociedade, vamos convidar todos os cidadãos e cidadãs a se sentirem mobilizados, a junto conosco usar o nosso símbolo da campanha, que é uma faixa branca. Vamos, com isso, lançar a campanha que em 2005 promete ser muito popular e quer conseguir resultados concretos para acabar com essa situação de injustiça que é a pobreza pelo mundo afora.

TV Nacional: Qual a importância de convidar o presidente para ser um conferencista no lançamento de uma campanha como essa no Fórum Social Mundial?

Campolina: A importância é muito grande. Em primeiro lugar, nós reconhecemos e damos as boas vindas às iniciativas internacionais do presidente Lula para combater a fome e a pobreza. Nos parece que suas iniciativas importantes são pontos de partidas absolutamente fundamentais, embora no nosso ponto de vista não sejam suficientes, já que há de se tratar desses três temas conjuntamente. O tema do comércio, que o presidente Lula tem tratado de maneira muito importante, deve ser examinado juntamente com o tema da dívida e o tema da ajuda humanitária.

Mas reconhecemos o papel que o presidente tem e nos parece que sua presença aqui tem dois significados. Por um lado, de trazer solidariedade de uma liderança da importância dele para a chamada global de ação contra a pobreza. Em segundo lugar, esperamos que o presidente venha ser um porta-voz levando para outros líderes globais as nossas reivindicações e propostas.