Rádio Nacional veicula reportagens premiadas sobre violência sexual de crianças e adolescentes

28/11/2004 - 14h55

Débora Barbosa
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A Rádio Nacional começa a veicular, a partir desta segunda-feira (29), matérias especiais sobre abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. O projeto de produção das reportagens foi selecionado no 2º Prêmio Tim Lopes de Investigação Jornalística, uma iniciativa da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi) e do Instituto WCF-Brasil.

"O abuso e exploração sexual de crianças é um dos problemas mais graves que o país enfrenta e também uma das questões onde o país se coloca de maneira mais silenciosa. Acreditamos que a mídia tem um papel importante na discussão dessas questões e principalmente motivar uma mobilização por políticas públicas para combater esse problema", disse a chefe do Departamento de Rádio da Radiobrás, Márcia Detoni, ao explicar que o tema também se insere na proposta de um jornalismo com foco no cidadão.

O radiodocumentário foi o formato escolhido para a produção. Cada reportagem especial terá cerca de 10 minutos de duração. A veiculação será realizada todas as segundas-feiras. De acordo com Márcia Detoni, a equipe trabalha há dois meses no projeto. Ela coordenou a série e, ao lado de Carlos Senna, chefe de programação da Rádio Nacional, investigou o turismo sexual em Fortaleza, capital do Ceará, e no município do Crato, interior do mesmo estado.

"Em Fortaleza, vi o turismo sexual e no Crato eu vi a exploração sexual provocada pela miséria. É impressionante o que a realidade em Fortaleza. Quando pergunto para as pessoas: O que elas acham que é turismo sexual, elas acham que é um caso isolado aqui ou ali. A sensação é que vai ficando normal e depois de uma década de denúncias, nada foi feito e continua crescendo", explica.

Antes de iniciar o projeto, os oito jornalistas participantes receberam um curso técnico e teórico, com duas especialistas da área, para tratar melhor o tema. O âncora da Rádio Nacional da Amazônia, Eduardo Mamcasz, investigou o tráfico sexual de crianças e adolescentes na rota entre Manaus e Venezuela. "O que me chamou a atenção é que ainda existem famílias vendendo suas filhas para prostituição e a idade diminui a cada dia que passa", disse.

A repórter Juliana Andrade conversou com especialistas sobre turismo e abuso sexual. "Estamos tendo oportunidade de analisar as causas do problema a fundo e mostrar que existem propostas, mas é necessário um esforço muito grande da sociedade para combater o abuso e a exploração sexual", afirma.

Já o chefe de reportagem da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, Aécio Amado, apurou as características da exploração sexual nas rodovias. Ele viajou do Rio de Janeiro até Natal (RN), passando por Fortaleza. "Foi uma viagem de quatro dias. Saímos numa carreta para vivenciar tudo o que acontece nas estradas. Foi uma experiência muito marcante porque vimos o problema de frente", explica o repórter.

A repórter Marina Domingos investigou o abuso intrafamiliar. Ouviu especialistas da Casa Abrigo do Distrito Federal e os profissionais da Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente (DPCA). "A gente percebe que existe uma rede pronta para receber as vítimas, mas o conhecimento do problema e as soluções ainda são muito velados", avalia. A produção geral da série de reportagens ficou sob a responsabilidade de Cleide de Oliveira.

O 2º Prêmio Tim Lopes de Investigação Jornalística teve apoio técnico do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Organização Internacional do Trabalho (OIT), Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).