Márcio Resende
Especial para a Agência Brasil
Buenos Aires – A posse do novo presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, no início de 2005, pode viabilizar futuros acordos do Mercosul com Cuba. Vasquez, que venceu as eleições presidenciais em primeiro turno, no último dia 31, quebrou uma hegemonia conservadora que persistia há mais de um século. A coalizão de esquerda que apoiou o novo presidente, o Encontro Progressista-Frente Ampla, já se declarou favorável à imediata recuperação das relações do país com Cuba, incluindo-se eventuais acordos com o Mercosul.
O bloco tem como Estados Partes Brasil, Paraguai e Argentina, que já declararam apoio à aproximação com Cuba, além do Uruguai, cujo atual governo é contrário à idéia (leia texto sobre o assunto). Uruguai e Cuba romperam relações diplomáticas desde 2002, e o atual governo do país vizinho alega que a falta de "democracia" em Cuba impede sua associação ao Mercosul.
"Entendemos as relações internacionais como uma política de Estado, de ponderação, que deve seguir as tradições nacionais na matéria. Nesse sentido, o Uruguai reestabelecerá relações com Cuba, caso cheguemos à Presidência. Cuba é membro da Aladi (Associação Latino-Americana de Integração), e o Mercosul tem vocação de associar-se e de ampliar-se. É nesse sentido que está orientada a nossa poltica externa", indicou Vázquez à Agência Brasil.
A Agência Brasil também conversou com dois apoiadores de Vásquez, os senadores Danilo Astori e José Mujica. "Tentaremos recuperar as relações com Cuba, porque essa ruptura não é boa para nenhuma das partes. Somos um país pequeno que precisa de relações fluidas com todos os países americanos. Já temos a definição política de buscar essa recuperação com Cuba", afirma Astori.
"Se quisermos encarar as negociações pela ALCA com um resultado positivo, temos que acumular força entre nós. Por isso, o Uruguai dará ênfase e prioridade ao Mercosul. Nós estudaremos o pedido de associação de Cuba", garante. Para Astori, existe um ponto inédito de consenso dentro do bloco. "Pela primeira vez em 13 anos de Mercosul, vejo que existirá uma sintonia importante com os governos de Brasil, Argentina e Paraguai. Precisamos aproveitar isso, Essa confluência de visões e de atitudes vai ajudar muito", analisa.
O senador Mujica lidera, na Frente Ampla, a corrente dos tupamaros, organização política que agrupa ex-guerrilheiros. "A ampliação do Mercosul é uma prioridade para nós. As relações com Cuba serão normalizadas imediatamente", defende. "Vejo muito possível Cuba dentro do Mercosul. Temos que procurar ter uma amplidão tal que nos permita somar a maior quantidade de espaços possível".
"Se Cuba voltar a colocar o assunto sobre a mesa, o Uruguai, com um novo governo, quer tratar do assunto. Quanto mais se isolar Cuba, pior. Há uma quantidade de aspectos que podem ser interessantes. Cuba precisa de certas oportunidades econômicas e tem muito conhecimento a ensinar para esta parte da América. Pode ser totalmente complementário", completa Mujica.
Como exemplo dessa complementaridade, Mujica aponta as áreas farmacêutica e médica, em que Cuba se destaca. Além disso, aponta que poderia haver acordos nas áreas de educação e de tecnologia.
Sobre a questão da democracia, Mujica lembra que um acordo 4+1 não precisa tratar desse ponto. "Um processo de integração final leva tempo. Não sei o que pode acontecer no mundo nesse ínterim", conclui.