Preço dos livros, falta de bibliotecas e analfabetismo levam brasileiro a ler pouco

02/06/2004 - 14h43

Brasília, 2/6/2004 (Agência Brasil - ABr) - O preço dos livros, a falta de bibliotecas e o analfabetismo podem ser considerados algumas das razões para o baixo índice de leitura no Brasil. Para o vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Bernardo Gurbanov, a baixa escolaridade é uma dos principais motivos para a situação da leitura no Brasil.

Segundo a pesquisa Retrato da Leitura no Brasil, da CBL, 61% dos brasileiros adultos alfabetizados têm muito pouco ou nenhum contato com os livros. Entre as 17 milhões de pessoas que não gostam de ler livros, 11,5 milhões possuem até oito anos de instrução.

"Sem dúvida, precisaríamos ter pelo menos uma biblioteca em cada município. Mas não basta apenas construir, é necessário acrescentar a isso um planejamento voltado para a educação, formação do hábito de leitura e oferta de livros não só os clássicos, mas os mais atuais e modernos", defende Gurbanov.

O vice-presidente da CBL critica o pensamento corrente de que uma biblioteca se faz principalmente com a doação de livros. "Precisamos mudar esse conceito, que já está muito difundido. Esse conceito de que biblioteca se faz com doação está errado, eterniza o atraso", avalia.

Argentino, há 27 anos no Brasil, Bernardo Gurbanov elogiou a iniciativa do projeto "Ler também é uma paixão", que será lançado hoje na partida entre as seleções de futebol do Brasil e da Argentina, em Belo Horizonte (MG). "Brasil e Argentina têm uma paixão especial pelo futebol, como todos nós sabemos. E tomara que isto seja o ponta-pé inicial para que também o povo argentino e brasileiro possam desenvolver essa paixão pela leitura, sem toda essa rivalidade que existe no futebol", disse.

Segundo Gurbanov, essa é uma iniciativa que pode contribuir para incentivar o hábito da leitura. "Eu estive duas vezes na Argentina, em abril, e constatei mais uma vez que há um interesse pela leitura e um hábito de ler muito difundido. O sistema educacional argentino estimula a leitura como uma atividade lúdica", explicou.

A seguir, um resumo dos principais resultados da pesquisa Retrato da Leitura no Brasil e dados de outros levantamentos.

Hábito de leitura

– A escolaridade é o principal determinante para o maior ou menor distanciamento da leitura de livros.

– A leitura de livros é apreciada, de fato, por apenas 1/3 da população adulta alfabetizada.

– As chamadas classes B e C concentram 70% dos apreciadores de livro.

– Entre as 17 milhões de pessoas que não gostam de ler livros, 11,5 milhões possuem até oito anos de instrução.

Acesso a livros e bibliotecas

– Estudos do Ministério da Cultura indicam que cerca de 1.300 municípios brasileiros das regiões mais pobres não possuem uma biblioteca pública.

– Metade dos livros lidos atualmente não são comprados.

– 61% dos brasileiros adultos alfabetizados têm muito pouco ou nenhum contato com os livros.

– 6,5 milhões de pessoas das camadas mais pobres da população dizem não ter nenhuma condição de adquirir um livro.

– De cada 10 não-leitores, 7 têm baixo poder aquisitivo.

– 73% dos livros estão concentrados nas mãos de apenas 16% da população.

– Mais da metade dos compradores de livros (58%) concentram-se em seis estados das regiões sul e sudeste.

Mercado de livros

– O Brasil possui 1.500 livrarias (o ideal seria existirem 10 mil).

– 89% dos municípios brasileiros não possuem livrarias.

– O mercado editorial brasileiro está em oitavo lugar em volume de produção no ranking mundial.

– Existem cerca de 530 editoras ativas, ou seja, que publicaram ao menos cinco livros em um ano ou com tiragem acima de 10 mil exemplares.

– Nos Estados Unidos, 30% dos livros editados são adquiridos pelos acervos públicos. No Brasil, somente 1% da produção editorial destina-se às bibliotecas.

– A aquisição de livros pelas bibliotecas norte-americanas é maior do que todo o consumo brasileiro.