Brasília, 2/6/2004 (Agência Brasil - ABr) - O Brasil assinou hoje um memorando de entendimento com a Alemanha para cooperação na área de energias alternativas, durante a Conferência sobre Energias Renováveis, em Bonn, na Alemanha. O termo, assinado pela ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, pelo ministro de Meio Ambiente da Alemanha, Jurgen Trittin, e pelo secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Cláudio Langone, prevê a troca de informações e a parceria entre os dois governos em projetos de desenvolvimento de energias renováveis não poluentes, como a eólica, solar, biomassa, geotérmica e de hidrogênio.
A polêmica sobre a inclusão de usinas hidrelétricas em projetos de geração de energia renovável não foi mencionada no memorando assinado. O pedido dos ambientalistas é que a questão não seja levada a debate no fórum de Bonn. "O interesse aqui é promover energias limpas, a discussão sobre usinas deve ser discutida na América Latina. Esse debate tem que ter participação da sociedade e do Congresso brasileiro", afirma o coordenador de Políticas para América Latina e Caribe do Greenpeace, Marcelo Furtado.
Representantes de ONGs no Brasil pediram hoje à ministra Dilma Rousseff e a representantes dos governos da América Latina que ela não promova em seu discurso, previsto para amanhã (3), acordos para desenvolvimento de energias renováveis, mas não mencione as hidrelétricas. Em resposta, a ministra disse que respeitará a plataforma de Brasília, acordo regional firmado em outubro de 2003, para desenvolvimento das energias renováveis na América Latina e Caribe. Dilma Rousseff falará em nome da América Latina e Caribe.
Alguns países da América Latina, inclusive o governo brasileiro, defendem as hidrelétricas como fontes de energia renováveis. Os ambientalistas afirmam que as hidrelétricas de grande porte geram sérios problemas sócio-ambientais. Representantes de ONGs no Brasil conversaram também com o ministro alemão Jurgen Trittin, que garantiu não haver interesse da Alemanha em desenvolver energia nuclear e afirmou ver na energia renovável a solução futura para os problemas sócio-ambientais.
Dilma Rousseff disse estar aberta a sugestões para acordos nessa área. Uma das que recebeu é para que o acordo nuclear firmado entre Brasil e Alemanha, que gerou as usinas Angra I e III, dê lugar à um acordo voltado para energia alternativa. "Sugerimos à ministra que a Alemanha compre de volta os equipamentos da Angra III, que estão desativados e que, com o dinheiro, o Brasil faça um projeto de energia renovável que gere o mesmo volume, mas sem impacto ambiental", diz Marcelo Furtado.
A Conferência, que termina na 6ª feira (4), é uma continuação da Rio + 10, Conferência de Johannesburg (África do Sul), realizada em 2002, e uma oportunidade de representantes de 150 países avançarem na agenda de energias renováveis. Na Rio + 10, o Brasil defendeu a proposta de elevar até 2010 a participação das fontes de energia renováveis para 10% da matriz energética mundial.
"O acordo abre uma porta importante em termos de parceria porque o Brasil tem competência no uso da biomassa, com o Pró-Álcool, e a Alemanha desenvolve um trabalho importante com as energias eólica e solar", ressalta o diretor de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Ruy de Góes.
Segundo ONGs ambientalistas, as energias renováveis apresentam menos impacto ambiental que a energia fóssil (carvão e petróleo) porque são limpas e poderiam atender perfeitamente 21 milhões de brasileiros que não têm acesso a energia. O consumo de energia fóssil é hoje responsável pela grande mudança climática no mundo.
Especialistas afirmam ainda que é importante para a América Latina desenvolver energias alternativas para obter financiamentos internacionais. Hoje, 4% dos financiamentos do Banco Mundial (Bird), por exemplo, são destinados à novas fontes renováveis, no valor de US$ 80 milhões.