Países em desenvolvimento concentram 80% do consumo mundial de fumo

31/05/2004 - 14h08

Brasília, 31/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - O Brasil vive uma contradição: por um lado é liderança mundial no combate ao tabagismo, por outro, é o segundo maior produtor internacional de tabaco e o primeiro exportador da matéria prima. Segundo dados de uma pesquisa inédita, divulgada hoje pelo Instituto Nacional do Câncer, esse quadro acontece porque a mão-de-obra e o custo de produção de tabaco no país são muito baixos. A Coordenadora da Divisão de Controle de Tabagismo do Instituto Nacional do Câncer – Inca – Tânia Cavalcante, em entrevista à Radiobrás, afirmou que cerca de 80% do consumo mundial se concentra em países pobres e em desenvolvimento.

Os dados que o Inca dispõem sobre tabagismo estão consolidados no "Inquérito Nacional sobre Morbidades Referidas e Agravos não Transmissíveis", pesquisa realizada nos dois últimos anos, em dezesseis capitais, pelo Ministério da Saúde. De acordo com a Coordenadora do Inca, a pesquisa revela que no Brasil cerca de 200 mil pessoas morrem por ano, vítimas do cigarro. "Hoje a concentração de tabagismo está entre as populações de baixa renda e de menor escolaridade", afirmou. Ela explicou, ainda, que a dependência obriga, muitas vezes, as famílias a desviarem parte do dinheiro da alimentação para o consumo de cigarro. "O cigarro brasileiro é o sexto mais barato do mundo; no país, um quilo de pão custa três vezes mais caro que um maço de cigarro", ressaltou.

Dados do Banco Mundial demonstram que, desde 1980, é possível afirma que o tabagismo agrava a pobreza e dificulta o desenvolvimento dos países subdesenvolvidos. Tânia Cavalcante acredita que o aspecto perverso do consumo de tabaco justifica que os investimentos sejam cada vez maiores nas ações educativas. "As ações devem ser voltadas para que as pessoas que não conseguem parar de fumar, não o façam em ambientes fechados, principalmente perto de crianças", explicou. Ela afirmou, ainda, que as crianças são vítimas potenciais porque respiram mais rápido, aumentando em cinco vezes o risco de morrerem vítimas da Síndrome da Morte Súbita Infantil.

A Coordenadora lembrou que tramita no Congresso Nacional a "Convenção-Quadro de Controle do Tabaco", um tratado internacional elaborado ao longo de quatro anos, por 190 países, sobre medidas de controle do tabagismo, em todo o mundo. Cavalcante explicou que o documento já foi assinado por 120 países, inclusive o Brasil, que foi o segundo a assinar. Falta agora a ratificação de 30 países para que ele passe a vigorar, mas até agora apenas 16 ratificaram. De acordo com o Ministro da Saúde, Humberto Costa, a expectativa do governo é a de que a Convenção esteja ratificada em quinze dias.

Tânia Cavalcante lembrou que diversas políticas públicas estão sendo elaboradas para atender, também, as pessoas que querem parar de fumar. Segundo a Coordenadora, as pessoas não devem se envergonhar de terem uma recaída quando tentam se livrar do cigarro e não conseguem. "A média de tentativas para se conseguir largar o vício de vez é de cinco vezes e a pessoa não pode sentir vergonha, tampouco se sentir fracassada", explicou. Ela afirmou que o ideal é a pessoa tentar identificar os motivos que a levam a voltar ao fumo. Para as pessoas que buscam mais informações sobre tabaco e atendimento especializado para largar o cigarro, está disponível o Disque Pare de Fumar. A ligação é gratuita, pelo número: 0800 703 70 33.