Especial 2 - Militares lembram os dias em que brasileiros em missão de paz ficaram sob fogo cruzado

31/05/2004 - 16h10

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Foram dez anos no Oriente Médio. Na maior parte do tempo, o Batalhão de Suez, primeira missão de paz integrada por brasileiros, viveu na iminência do conflito entre egípcios e israelenses. Mas, apenas o vigésimo e último contingente testemunhou o embate. Em maio de 1967, o presidente do Egito, general Gamal Abdel Nasser, ordenou a retirada da Força de Emergência das Nações Unidas da Faixa de Gaza. Seguiram-se uma série de ataques e contra-ataques, muitas mortes e a explosão da sangrenta Guerra dos Seis Dias, em junho daquele mesmo ano.

No meio do conflito, os alojamentos brasileiros se transformaram em alvo fácil. Em um dos ataques, o cabo enfermeiro Carlos Adalberto Ilha de Macedo, 20 anos, foi morto com um tiro de metralhadora. "Ele se distanciou do grupo por um momento. Quando fomos procurá-lo, já havia acontecido o pior", conta o ex-soldado Wilton Melo Garcia, 57 anos. Morador de Porto Alegre, Wilton é hoje presidente da sede regional da Associação de Integrantes do Batalhão de Suez. "Somos integrantes. Para quem participa de uma missão de paz, a missão nunca acaba."

Vários colegas do ex-soldado gaúcho guardam em casa fitas cassete com o som dos tiroteios. Além de balas, os militares do 20º contingente viram toneladas de areia voando pelas trincheiras a cada bombardeio. A saída do batalhão do local só ocorreu depois que Israel praticamente ganhou o conflito. Assim mesmo, depois de negociação com soldados israelenses que avançavam para o quartel da ONU, em Rafah.

Em 1988, a organização do Nobel concedeu o prêmio mais cobiçado do mundo aos participantes de todas as missões de paz realizadas até aquela data. "No Brasil, não tivemos o mesmo reconhecimento. Muitos voluntários saíram da missão sem apoio e com sérios problemas de saúde, principalmente psicológicos", lamenta Wilton. Atualmente, tramita no Congresso um projeto de lei do deputado Pompeu de Mattos (PT-RS) que reconhece a condição ex-combatente aos militares do 20º contingente. A proposta iguala a situação desses militares à dos soldados da FEB na 2ª Guerra Mundial.