Rio, 5/5/2004 (Agência Brasil - ABr) - As vantagens comparativas do Brasil frente a outros países tendem a ser anuladas se o governo e as empresas não priorizarem a gestão do conhecimento, isto é, dos bens intangíveis, em suas estratégias. A avaliação foi feita pelo coordenador geral do Centro de Referência em Inteligência Empresarial (Crie), da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe), da UFRJ, Marcos Cavalcanti, em palestra hoje a empresários filiados à Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro.
Segundo ele, ainda não se percebeu no país, a nível do governo federal, "embora não de maneira coletiva", esse momento histórico novo que o mundo vive. A exceção é o Secretário de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da Presidência da República, Luiz Gushiken, afirmou Cavalcanti. Disse que falta pensar estrategicamente o papel do país nessa nova sociedade: nós vamos ser exportadores de matéria-prima e produto industrializado ou vamos produzir e exportar produtos intensivos em conhecimento?
Cavalcanti disse também que o país tem possibilidades em várias áreas de se tornar referência para o mundo. Uma delas é a indústria cultural, típíca dessa nova economia, com produção de filmes e música de qualidade, além da indústria de entretenimento, que inclui o turismo. "Acho que o Brasil podia ser, disparado, uma liderança mundial nessa área", destacou.
O mesmo ocorre no campo da biotecnologia, disse Cavalcanti. Ele não tem dúvidas de que a cura do câncer e da Aids virá de alguma droga que está na Amazônia ou em outro país que tenha uma floresta com a mesma biodiversidade que a brasileira. Outras áreas que ele vê com grande potencial para o país são aeroespacial e informática.
Pesquisa divulgada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE) em 2001 mostrou que o conhecimento responde pela geração de 55% das riquezas mundiais, com tendência de impacto cada vez maior se os países quiserem agregar valor às suas empresas e produtos. O uso do conhecimento é que dará o diferencial daqui para a frente, apostou o Coordenador do Crie.
Cavalcanti sublinhou a importância e urgência de o governo definir uma estratégia de país. Em que áreas nós podemos e queremos ser bons? A partir dessa estratégia, o governo vai se reestruturar e definir políticas adequadas para o crescimento dos negócios. Conforme relatou, outro aspecto que fez a Coréia avançar e ultrapassar o Brasil nos últimos 20 anos em termos de PIB, passando de uma posição inexistente no ranking dos 50 maiores PIBs do mundo para a 13ª colocação hoje, foi o investimento maciço em educação, o que não acontece no Brasil, onde o segmento ainda não é uma prioridade nacional, avaliou.
Segundo sua opinião, "mais importante que o Fome Zero, seria a criação de um programa "Falta de Educação Zero", porque uma pessoa com uma formação mínima não morre de fome no mundo inteiro; ele arruma um jeito de sobreviver. Além disso, as informações mínimas de higiene impedem que essa pessoa morra de fome e de moléstias que são pegas por falta de informação", explicou.
Professor de Engenharia da Produção da Coppe e doutor em Informática pela Universidade de Paris, Marcos Cavalcanti analisou que se o governo e o empresariado atacassem o problema da educação como prioridade,"nós estaríamos dando um grande passo para o Brasil ingressar na sociedade do conhecimento. Acho que as pessoas não entenderam o impacto econômico dessa nova ferramenta porque o investimento em educação é o melhor negócio para as empresas e para o país".
O Banco Mundial já afirma isso, disse Cavalcanti, acrescentando que existe uma Câmara de Gestão do Conhecimento no governo federal, mas a discussão se restringe ao aspecto da tecnologia. O debate prévio que precisa ser feito se refere à estratégia de país que nós queremos ter, indicou. Na nova sociedade mundial, que substitui a era industrial, marcada pela relação capital-trabalho, a gestão do conhecimento deve ser a ferramenta fundamental para a produtividade e o bom resultado das empresas e do governo, mas subordinada a uma estratégia de desenvolvimento de país no médio e longo prazos. A partir da resposta que se obtiver, as prioridades virão naturalmente, apontou Cavalcanti.
Na avaliação do especialista, a nova lógica econômica, ao contrário da era industrial, parte da premissa de que "quanto mais compartilho conhecimento, mais tenho conhecimento, e que quanto mais pessoas usarem esse conhecimento, maior é o valor do produto final". Ou seja, é preciso pensar o conhecimento como fonte de renda para as empresas.