Jorge Wamburg
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O alto custo da logística para o setor ferroviário no Brasil é "uma ameaça à competitividade do setor produtivo e conseqüência do uso inadequado do transporte rodoviário", adverte o deputado federal Jaime Martins (PL-MG), que preside a Frente Parlamentar Ferroviária. Ele lembra que 150 após a inauguração da primeira ferrovia brasileira, a malha atual tem problemas estruturais que limitam sua capacidade e oneram seus custos: "Mais de 90% desta malha foram construídos no final do século 19 e início do século 20 – e muitos trechos não são mais adequados à movimentação de cargas na economia moderna".
O Plano de Revitalização das Ferrovias, lançado pelo Ministério dos Transportes há um ano, na presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, define um conjunto de medidas prioritárias para retomar o desenvolvimento do setor no país. Na opinião do presidente da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários, Guilherme Laager, uma das saídas para o setor é dar seqüência ao plano. "Este é um ponto em que não há divergências entre governo e os demais interessados no transporte ferroviário", diz Laager.
Ele lembra que as faixas de domínio das ferrovias em trechos estratégicos, como os acessos aos portos do Rio de Janeiro e de Santos, estão invadidas por favelas; ferrovias são cortadas por milhares de cruzamentos com ruas e estradas, sem uma sinalização adequada e colocam em risco a circulação de veículos, pedestres e do próprio transporte ferroviário.
O deputado Jaime Martins completa: "Além desses problemas, existem longos trechos abandonados por terem ficado obsoletos e com pouca competitividade no atendimento aos mercados, fator responsável pelos baixos níveis de produtividade dos equipamentos, o que inviabiliza investimentos na modernização e a expansão da frota".
Laager e Martins concordam que para mudar essa situação e sustentar o crescimento econômico do país, é necessário investir em uma infra-estrutura ferroviária capaz de assegurar custos competitivos, em especial para o setor exportador. "Temos de agir de imediato", acrescenta Martins.
Potencial
O presidente da ANTF argumenta com números para provar o potencial das ferrovias: desde 1996, as concessionárias investiram R$ 4 bilhões e vão aplicar os R$ 7 bilhões previstos até 2008 em infra-estrutura, desenvolvimento de novas tecnologias, compra de vagões e locomotivas e na manutenção das linhas.
"Cada dólar investido vai gerar mais US$ 8 à balança comercial brasileira", prevê Guilherme Laager. Nos oito anos de operação pela iniciativa privada, o setor gerou 20 mil empregos diretos e indiretos e o volume de carga transportada cresceu 34%, alcançando 185 bilhões de toneladas por quilometro útil.
Esse crescimento, porém, ainda é muito inferior ao desempenho registrado pelas ferrovias na economia de outros países, onde têm participação muito maior: Rússia, 81%; Canadá, 46%; e Estados unidos e Austrália, 43%.