Funai lamenta mas diz que conflito faz parte da luta dos índios pela terra

17/04/2004 - 18h45

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília, 17/4/2004 (Agência Brasil - ABr) - O presidente da Funai, Mércio Pereira Gomes, lamentou hoje a morte de 29 garimpeiros na reserva indígena Roosevelt, em Rondônia. Gomes disse, no entanto, que o conflito faz parte da luta indígena pela terra no Brasil. Três corpos foram encontrados há uma semana na região. Outros 26 mortos – já em avançado estado de decomposição - devem ser retirados da área ainda neste final de semana pela Polícia Federal. A PF acredita que todos eles foram vítimas de confrontos entre índios e garimpeiros durante a semana santa.

"Sentimos pelos que morreram e pelas famílias. Mas também precisamos dizer ao povo brasileiro que os índios estão fazendo uma defesa fundamental das terras invadidas por garimpeiros totalmente ilegais", ponderou o presidente da Funai, que defende a imediata discussão de projetos que alterem o artigo 231, parágrafo 4. O artigo trata da exploração dos recursos minerais no país.

Para Gomes, o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) precisa encontrar províncias minerais fora da reserva para regularizar a exploração de garimpeiros e mineradoras. "Os índios, por sua vez, precisam de autorização para minerar em suas terras", defende o presidente da Funai. "Um decreto seria suficiente para resolver essa questão. Só temos que maturar a discussão e fazer tudo com muito cuidado para não provocar uma corrida para a área."

De acordo com Gomes, desde que as minas de diamante foram encontradas na reserva Roosevelt, em 1999, as invasões de garimpeiros se tornaram freqüentes. Tanto a Funai quanto os índios pediram aos garimpeiros para sair da reserva. No ano passado, um confronto já havia deixado índios feridos e garimpeiros (cerca de oito) mortos. A tribo Cinta-Larga tem hoje cerca de 1,5 mil índios, espalhados por uma região 1,6 milhão de hectares.

"A reserva chegou a ter 5 mil garimpeiros invasores", conta o presidente da Funai. "Depois dos primeiros confrontos com os índios, da nossa intervenção e da PF, esse número caiu para 600. Na semana santa, quando houve os dois últimos conflitos, haviam ainda 150 garimpeiros na reserva."

Na segunda-feira passada, a Funai recebeu a denúncia de que um grupo de 20 garimpeiros havia invadido a reserva para resgatar os corpos de outros 26 colegas desaparecidos. Diante disso, a fundação enviou uma equipe de 15 técnicos para tribo Cinta-Larga. A quipe é liderada pelos indigenistas Walter Blos e Apoena Meirelles. Foram eles que repassaram para a PF as coordenadas para a operação de resgate dos corpos.

Para o presidente da Funai, é preciso levar em consideração a possibilidade de alguns mortos serem vítimas de brigas entre os próprios garimpeiros "Os técnicos disseram que os mortos estão em avançado estado de decomposição pelo tempo e pela ação de animas", revelou Gomes. "Não é possível nem precisar o número de corpos porque nem todas as cabeças estão no lugar."