Brasília, 13/4/2004 (Agência Brasil - ABr) - A Universidade de Brasília é a primeira instituição de ensino superior público federal a oferecer cotas para negros. No segundo vestibular deste anos, 20% das vagas serão destinadas a afrodescendentes. As inscrições começaram ontem e terminam no sábado (17). O Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), responsável pelo vestibular da universidade, estima que cerca de 5 mil alunos disputem as 392 vagas reservadas no sistema de cotas.
Os candidatos que quiserem se beneficiar do novo sistema precisarão informar sua condição de negro em um questionário sobre dados pessoais e serão fotografados. Uma comissão da UnB vai avaliar as fotos e determinar quem pode e quem não pode concorrer às cotas. O resultado do exame será divulgado no dia 21 de maio. Aqueles que forem preteridos irão concorrer ao vestibular comum. Segundo a Assessoria de Imprensa do Cespe, uma vez preenchida a cota, o candidato que estiver inscrito no sistema passa a concorrer com os demais.
Na fila de inscrição, as opiniões são as mais diversas. Watson Rodrigues dos Santos tem 20 anos e faz vestibular pela quarta vez vestibular para Engenharia Florestal. Apesar de ter feito sua inscrição pelo sistema, acha que é injusto. "A mesma capacidade que os negros têm, os brancos também têm. (O sistema) é só uma forma de formalizar o racismo", avalia o estudante. Watson acha que devem ser criadas mais vagas, e não segmentadas as que já existem.
O funcionário público Sérgio Lopes Reis não compartilha dessa opinião. Ele é branco, formado em Artes pela Universidade de Brasília, faz Direito em uma universidade particular e está tentando passar na UnB novamente para terminar o segundo curso. "É uma questão de justiça social, e o negro foi injustiçado no Brasil", afirmou. Ele acredita, no entanto, que em dado momento essas cotas devem ser eliminadas.
Viviane Correia da Silva é negra, tem 18 anos e diz que não vai prestar vestibular porque ainda não se decidiu por um curso. Ela trabalha em um cursinho pré-vestibular que treina alunos para passar na prova de admissão da UnB e discorda do novo sistema. "O preto sabe que não precisa disso e que pode fazer aquilo que quer, com a força de vontade e a inteligência que tem para poder encarar um branco ou um preto", defende a estudante.