Genética ajudará a aperfeiçoar vacina contra a tuberculose

24/03/2004 - 8h13

Irene Lobo
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A vacina BCG contra a tuberculose utilizada no Brasil deverá ser melhorada em breve. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Fundação Ataulpho de Paiva (FAP) anunciaram que vão seqüenciar os genes do bacilo da tuberculose utilizados na vacina BCG Moreau adotada no Brasil.

De acordo com a Fiocruz, o conhecimento das particularidades genéticas do bacilo irá permitir que se produza no Brasil uma vacina mais eficaz contra a doença e com menos efeitos colaterais. As informações da pesquisa também poderão ser úteis nos testes de controle de qualidade na produção da vacina.

O diretor científico da FAP, Luiz Roberto Castello Branco, explica que vacina contra a tuberculose, produzida no Brasil desde 1930, se modificou com o tempo e perdeu a eficácia contra alguns tipos de cepas mais resistentes. Ainda assim, "a nossa vacina é considerada a melhor do mundo em termos de imunização e efeitos colaterais", garante.

A meta das duas entidades é investir R$ 500 mil no projeto e concluí-lo até março do ano que vem. "Também vamos tentar desenvolver vacinas novas a partir da BCG. Já que ela estimula o sistema imune das crianças de forma genérica, vamos utilizar essa característica para construir vacinas modificadas que possam proteger contra diversas outras doenças", explica o pesquisador da Fiocruz Wim Degrave.

Os cientistas tentarão descobrir ainda por que o BCG confere imunidade parcial à hanseníase e é eficaz no tratamento da asma e do câncer superficial de bexiga.

Proteção

A imunização contra a tuberculose é estratégica para o Brasil. Este ano, a FAP produzirá 17 milhões de doses da vacina para conter o avanço da doença. Segundo o Ministério da Saúde, a cada ano surgem 100 mil novos casos de tuberculose no país.

A vacina também se tornou imprescindível após o aparecimento de um tipo de tuberculose resistente a drogas. Na semana passada, a Organização Mundial de Saúde (OMS) pediu aos governos de todo o mundo a expansão dos programas de controle da tuberculose.

De acordo com um estudo do órgão realizado em 77 países, um bacilo resistente a medicamentos estaria se espalhando pelo mundo, principalmente nos países da antiga União Soviética e na China.

A OMS considera a tuberculose resistente uma das maiores ameaças à saúde pública global. Os especialistas alertam para a necessidade de os sistemas de saúde manterem a vigilância constante sobre os novos casos e investirem no tratamento da doença.