Brasília - Já chegam a 200 as vítimas fatais dos atentados terroristas em Madri. Os espanhóis começaram a enterrar os mortos hoje diante da expectativa de eleições gerais no país marcadas para o próximo domingo (14). A campanha eleitoral está suspensa desde as explosões das bombas, que também deixaram pelo menos 1.500 pessoas feridas. Centenas de pessoas acompanharam o funeral coletivo realizado na localidade de Alcalá de Henares, em Madri, onde moravam 40 pessoas que morreram nos ataques. O local também era o ponto de partida de três dos quatro trens que sofreram os ataques.
O governo espanhol ainda investiga os responsáveis pelo atentado. O principal suspeito para o governo é o grupo separatista basco ETA, mas a possibilidade de os ataques terem sido coordenados pela rede terrorista árabe Al Qaeda também não foi descartada. Um dos principais jornais da Espanha, o "El Pais", divulgou hoje a informação de que o governo espanhol teria dado ordens a seus embaixadores para que difundissem a versão de que o ETA seria o responsável pelos ataques logo depois da explosão das bombas. O jornal reproduz um texto que teria sido enviado pela ministra das Relações Exteriores, Ana Palácios, no qual ela pede aos embaixadores que confirmem as suspeitas sobre o ETA.
O jornal afirma que o Ministério das Relações Exteriores não quis comentar as denúncias, nem revelou se as possíveis instruções aos embaixadores foram modificadas posteriormente. Se ficar comprovado que a autoria dos ataques é do grupo ETA, analistas espanhóis acreditam que o Partido Popular sairá fortalecido e poderá ter vantagens nas eleições, devido à sua dura postura contrária aos separatistas bascos. Já, se a autoria for mesmo da rede terrorista Al Qaeda, ou de outro grupo terrorista islâmico, o presidente de governo, José Maria Aznar, saíra enfraquecido por ter se unido aos Estados Unidos na luta contra o terror.
Aznar não deseja a reeleição, mas o sucessor eleito por ele, o ex vice-presidente Mariano Rajoy, buscará um terceiro mandato consecutivo de quatro anos para o centro-direitista Partido Popular. O candidato do Partido Socialista Obrero Espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, se opôs à guerra no Iraque, mas apoiou Aznar na luta contra o ETA. Zapatero é a esperança de muitos espanhóis para que o poder volte às mãos dos socialistas – que não estão no governo desde a derrota de Felipe González, em 1996.
Diante das incertezas sobre os responsáveis pelos ataques, os espanhóis permanecem em luto pelas vítimas. "Enterramos um filho de 23 anos, um filho com todo o futuro pela frente", disse um pai vestido de luto, abraçado a sua esposa durante o primeiro funeral público. "É muito duro. Sentimos a inutilidade e o horror. Não podemos continuar convivendo com isso", afirmou uma espanhola que perdeu a sobrinha nos atentados.
Ontem, onze milhões de pessoas em toda a Espanha saíram de casa para protestar contra o pior ataque terrorista já registrado na história da Espanha. Em Madri, o presidente José Maria Aznar e o príncipe herdeiro, Felipe de Bourbon participaram dos protestos, mesmo embaixo de chuva. O presidente da Comissão Européia, Romano Prodi, o primeiro-ministro da França, Jean-Pierre Raffarin, e o premier da Itália, Silvio Berlusconi, também encabeçaram a marcha na capital espanhola.
(Com informações da CNN Internacional)