Pesquisa revela que brasileiro não é fiel a marcas na hora de consumir

04/03/2004 - 18h02

São Paulo, 4/3/2004 (Agência Brasil - ABr) - O brasileiro não é fiel a marcas ou a hábitos de consumo. No supermercado, o que pesa mesmo é o bolso. Pesquisa divulgada hoje pela consultoria AC Nielsen mostra que no ano passado 87% dos brasileiros mudaram sua lista de compras devido a um aumento de preços, em média, 9,4% acima da inflação. A queda no poder aquisitivo da população, acentuada nos últimos dois anos, também contribuiu para a mudança de comportamento em frente às gôndolas dos supermercados. A pesquisa acompanhou o desempenho de 153 categorias de produtos nas regiões metropolitanas de São Paulo, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife.

A AC Nielsen acompanhou o desempenho de 153 categorias de produtos, de 1994 a 2003, nas regiões metropolitanas de São Paulo, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife. O trabalho identificou quatro fatos marcantes para o consumo na última década – a implantação do plano Real (1994), a desvalorização do Real e a adoção do câmbio flutuante pelo Banco Central (1999), a eleição presidencial e a eleição inflacionária (2002) e, mais recentemente, o clima de expectativa gerado a partir da posse de Luís Inácio Lula da Silva (2003).

Em 1995, o mercado de bens de consumo de massa colheu os frutos do Plano Real, rememora Arthur Bernardo Neto, diretor geral da divisão de pesquisa da ACNielsen.

Em sua primeira fase, O Real recuperou o poder aquisitivo dos brasileiros levando as classes C, D e E às compras. Naquele ano, 95% dos produtos de largo consumo registraram crescimento nas vendas e 5% ficaram estáveis. No ano seguinte, algumas categorias começaram a apresentar queda. Gradualmente, os índices de crescimento foram ficando mais discretos, associados à perda do poder aquisitivo do consumidor – em 1999, apenas 28% dos bens de consumo de massa registravam alta, 29% mantinham-se estáveis, e 35% apresentavam queda.

Ainda assim, Bernardo Neto enfatiza que de 1994 a 2002 os bens de consumo de massa cresceram sempre acima do PIB. As categorias auditadas tiveram alta acumulada de 71% no volume de vendas. Em 2003, depois de 9 anos de crescimento consecutivo, este mercado apresentou, na média, estabilidade nas vendas. O faturamento, no entanto, subiu 8,7% - a explicação, segundo o diretor da ACNielsen, é a correção de preços em niveis acima da inflação.

O levantamento aponta dados curiosos. Comparado à população, o número de lojas varejistas cresceu três vezes mais na última década, acirrando a concorrência. As lojas de pequeno porte ganharam importância pela comodidade da localização e pelos preços mais baixos.

As marcas alternativas também ganharam a guerra pela preferência do consumidor. De acordo com a AC Nilesen, em 2003, 63% dos consumidores trocaram as marcas tradicionais por produtos alternativos com melhor preço – lideram as trocas sabão em pó, arroz, feijão, óleos comestíveis e sabonetes. A lista de compras também sofreu cortes. 35% dos brasileiros deixaram de comprar iogurtes, biscoitos, refrigerantes, queijos e industrializados da carne.

O único segmento que manteve altas crescentes ao longo dos últimos 10 anos foi o de higiene e beleza. A explicação é simples: além de abarrotar o mercado com lançamentos, aumentando as opções dos consumidores, o setor registrou o menor nível de correção acima da inflação – 4,7%.

O cenário previsto para 2004 é de otimismo. A consultoria aposta em iniciativas para criação de empregos, no controle da inflação, na manutenção do atual nível de poder aquisitivo e na discreta redução da taxa de juros ao consumidor. Repetindo afirmação constante no relatório da ACNielsen, Arthur Bernardo Neto conclui: "2004 não deverá ser o ano do espetáculo do crescimento, mas pode se constitui como o elo para o crescimento sustentado dos próximos anos".