Lula pede a Chirac e Schroder apoio para flexibilização nas regras do FMI

04/03/2004 - 16h17

Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender hoje, em conversas telefônicas com o presidente da França, Jacques Chirac, e com o chanceler alemão, Gerhard Schroder, a flexibilização de regras impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) ao Brasil e aos países da América Latina. Durante conversas que duraram cerca de 25 minutos cada, Lula solicitou o apoio dos representantes franceses e alemães no FMI para duas propostas brasileiras: que a contabilidade do Fundo não considere como gastos os investimentos produtivos das empresas públicas latino-americanas e que o FMI crie uma espécie de seguro que proteja os países da América Latina durante eventuais crises originadas fora da região.

Segundo o porta-voz da Presidência, André Singer, o atual formato de contabilidade dos gastos latino-americanos pelo FMI compromete iniciativas em diversos setores, especialmente na área de infra-estrutura. O presidente Lula considera, de acordo com o porta-voz, que o crescimento econômico é hoje o principal fator de paz na região - o que também o motivou a fazer o pedido a Chirac e Schroeder.

"O presidente Lula chamou a atenção para os graves constrangimentos que pesam sobre a possibilidade de desenvolvimento desses países, inclusive sobre aqueles que realizaram vigoroso ajuste macroeconômico. O presidente Lula sublinhou que o principal capital dos governantes da região é a credibilidade política que adquiriram, e essa credibilidade eles não podem perder", informou o porta-voz.

Com relação ao segundo pedido feito pelo presidente Lula, para que o FMI crie um seguro que proteja os países da América Latina de crises externas, André Singer disse que o objetivo do presidente Lula com a medida é preservar a manutenção de políticas que asseguram o crescimento econômico da região.

O presidente da França manifestou apoio às duas propostas brasileiras. Já o chanceler alemão, segundo o porta-voz, recebeu "com simpatia" os pedidos de Lula e se comprometeu a discutir os temas durante encontro que manterá com o diretor-gerente do FMI, Horst Kohler, na semana que vem.

O presidente brasileiro prometeu enviar a Schroeder um memorando que formaliza as duas propostas do Brasil ao FMI. "Shroeder lembrou que ambos se encontrarão em maio, em Guadalajara, por ocasião da cúpula da União Européia-Améria Latina, quando poderá ser definida a data da visita que o chanceler alemão pretende fazer ao Brasil ainda este ano", disse Singer.

Foi a terceira vez esta semana que o presidente Lula telefonou para líderes internacionais para defender mudanças nas regras do FMI. Na última segunda-feira, o presidente Lula conversou por cerca de 15 minutos com George W. Bush, presidente dos Estados Unidos, e com o chefe de governo da Espanha, José Maria Aznar, para fazer os mesmos pedidos. Na semana que vem, o presidente ainda pretende falar com o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair. A idéia do presidente é mobilizar os representantes desses países no FMI para apoiarem os pleitos brasileiros.

Na prática, as medidas sugeridas por Lula poderão ajudar o Brasil a garantir um aumento dos investimentos em infra-estrutura sem prejuízo das metas fiscais. No último domingo, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, conversou sobre o mesmo tema com o diretor-gerente do FMI, Horst Kohler, que manteve um encontro com o presidente Lula.

Durante a conversa com o presidente Lula, Jacques Chirac aproveitou para revelar que defendeu junto a representantes da FAO e de outros organismos internacionais, na semana passada, a proposta de criação do Fundo Mundial de Combate à Fome - de autoria do presidente Lula. "Ele (Chirac) expressou, também, a esperança de que o grupo de trabalho franco-brasileiro sobre esse assunto possa produzir brevemente um conjunto de propostas para a construção desse Fundo", ressaltou o porta-voz.