Lamartine é homenageado em seu centenário com série de espetáculos musicais

09/01/2004 - 12h28

Angélica Gramático e Alessandra Bastos
Repórteres da Agência Brasil

Rio e Brasília - Há exatos cem anos, no dia 10 de janeiro de 1904, nascia Lamartine de Azevedo Babo no Rio de Janeiro. Para comemorar o centenário de seu nascimento, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) no Rio promove, todas as terças-feiras do mês de janeiro, a série de espetáculos musicais Lamartine em Revista, nos quais os artistas prestam uma homenagem a Lalá, como era carinhosamente conhecido.

Com sucessos inesquecíveis, como "Eu Sonhei Que Tu Estavas Tão Linda", "No Rancho Fundo" e "Serra da Boa Esperança", Lamartine se tornou um dos mais importantes compositores brasileiros. Ficou conhecido como o Rei do Carnaval, graças ao grande número de marchinhas como "Teu Cabelo Não Nega" e "Linda Morena".

A primeira homenagem do CCBB aconteceu com o show Teu Cabelo Não Nega – O Carnaval de Lamartine, no último dia 6. No espetáculo, Eduardo Dusek e Soraia Ravenle cantaram sucessos criados por Lalá que marcaram os carnavais cariocas e que são lembrados até hoje. Na próxima terça-feira (13), o espetáculo será Viva o Amor – Lalá e o Teatro de Revista, com Léo Jaime e Sabrina Korgut. A série de shows também homenageia o bom humor e o jeito divertido de Lamartine Babo com o espetáculo Lamartiníadas – Humor e Variedades com Pedro Miranda, Alfredo Del Penho e Pedro Paulo Malta, no dia 20.

Autor de grande parte dos hinos que homenageiam os times cariocas, Lamartine foi o mais versátil de todos os compositores do início do século. Em 1945, fez o hino do Flamengo, que acabou se tornando um grande sucesso no Carnaval. Cinco anos depois, em 1950, quando apresentava o programa Trem da Alegria, na rádio Mayrink Veiga, foi desafiado pelo amigo e companheiro de programa, Heber de Bôscoli, a criar hinos para outros times brasileiros. O desafio deu origem aos hinos do Fluminense, Bangu, Bonsucesso, Botafogo, Vasco, Canto do Rio, Madureira, São Cristóvão, Olaria e América, seu time do coração.

Na última terça-feira de janeiro, o grupo Arranco de Varsóvia apresenta Hei de Torcer! Lalá e o Futebol. Os espetáculos acontecem nos horários de 12h30 e 18h30.

A primeira composição de Lamartine, com apenas 14 anos, foi uma valsa. Quando criança, estudou música religiosa, mas como bom carioca, foi ao samba e ao futebol que dedicou sua vida.

Conta-se que entre os onze irmãos, apenas dois, além dele, chegaram à idade adulta. O restante morreu ainda criança. As dificuldades financeiras fizeram com que Lamartine deixasse os estudos para trabalhar. Como office-boy, aproveitava as horas vagas para compor e conhecer artistas e jornalistas.

Como típico poeta, teve nos desencontros amorosos inspiração para muitas das canções. Alda foi uma das grandes paixões. Se conheceram em 1923 e namoraram por dois anos, até que Alda, durante uma viagem, escreveu uma carta terminando o relacionamento, sem explicações. Anos mais tarde, se reencontraram. Lamartine estava com outra namorada e resolveu ficar com as duas. A história foi descoberta por Alda, que novamente terminou tudo.

Além dos amores frustrados, o compositor sempre teve problemas no trabalho. Uma das histórias contadas sobre Lamartine refere-se à sua demissão de uma Companhia de Seguros. Verídico ou não, o fato é que o músico teria sido demitido após ser flagrado por seu chefe batucando na mesa enquanto compunha músicas e mordia a língua, seu cacoete ao compor. A demissão acabou por fazer com que o carioca se dedicasse ainda mais à música e fosse trabalhar como jornalista, escrevendo sobre cultura.

Em 1949, um incêndio destruiu o arquivo do compositor, onde estavam sua coleção de caricaturas (por ser muito magro, Lamartine foi alvo de muitos desenhos), piadas e originais de letras. O compositor morreu em 16 de junho de 1963, no Rio, depois de um segundo enfarte.