Aparato de segurança para Cúpula das Américas muda rotina de Monterrey no México

09/01/2004 - 16h40

Nádia Faggiani
Enviada Especial ao México

Monterrey - A segurança na cidade de Monterrey, capital do estado de Nuevo León, ao norte do México, começa a ser reforçada para a chegada dos chefes de Estado que participam nos próximos dias 12 e 13 de janeiro da Cúpula Extraordinária das Américas. O encontro vai reunir 34 presidentes e primeiros-ministros de países integrantes da OEA (Organização dos Estados
Americanos). Serão 31 chefes de Governo e dois ministros de Relações Exteriores - da Guatemala e de Santa Lucía. A grande expectativa gira em torno da presença do presidente americano George W. Bush, um dos motivos para que a segurança na cidade seja redobrada.

Dentro e fora dos hotéis em que os presidenciáveis ficarão hospedados, foi criado um esquema especial desde a última terça-feira. Foram instalados detectores de metais e mais de uma centena de policiais do Estado Maior da Presidência, de corporações federais e locais foram colocados a postos nos estacionamentos em frente aos hotéis para evitar que a imprensa e pessoas que não sejam hóspedes se aproximem. Veículos também são revistados para verificar a existência de explosivos.

Pela manhã, homens do Estado Maior da Presidência começaram a levantar um muro de ferro ao redor do Parque Fundidora, onde será sediada a Cúpula e nas avenidas próximas por onde os carros oficiais terão acesso ao local. A medida é para evitar a aproximação de manifestantes nos dois dias em que os chefes de Estado estarão reunidos.

Isso porque a presença de George W. Bush em Monterrey deve inflamar os ânimos de entidades sindicais e movimentos revolucionários. A União Nacional de Trabalhadores (UNT), do México, agendou para o próximo dia 12 uma marcha rumo ao Parque Fundidora, contra a política econômica dos Estados Unidos e a Área de Livre Comércio das Amércias (Alca), ao que eles alegam não garantir benefícios à população das nações em desenvolvimento. Participam da marcha, ainda, organizações filiadas a UNT, como a Frente Sindical de Camponeses.

O Parque Fundidora, antigo centro industrial desativado, que foi transformado em centro de lazer e eventos, está fechado ao público de 3 a 14 de janeiro, e só volta a abrir um dia após o encontro. Cerca de mil jornalistas de toda a imprensa mundial estão credenciados e a organização do evento espera mais 300.

No aeroporto Mariano Escobedo também pode-se ver mais integrantes da Polícia Federal Preventiva, do Estado Maior da Presidência e do Grupo Especializado em Segurança Extrema, encarregados de dispersar possíveis protestos e de controlar a entrada de possíveis terroristas no país.

O administrador geral do aeroporto, Gimenez Jimeno, afirma que os procedimentos de revista de passageiros, de equipamentos de mão, documentos e os controles de acesso em todas as áreas do aeroporto estão mais rigorosos desde o dia dois de janeiro. "Pretendemos evitar qualquer incidente. Além dos procedimentos normais, para entrar no aeroporto é necessário autorização do Estado Maior", diz Jimeno.

Temas Sociais

Ao contrário das reuniões anteriores, a Cúpula Extraordinária das Américas, que começa na próxima segunda-feira, em Monterrey, terá como tema principal a questão social. Até então, a ênfase das reuniões vinha recaindo sobre temas econômicos, o que fez os chefes de governo decidirem por voltar as atenções um pouco mais para as políticas sociais. O discurso do presidente Lula deve girar em torno do desenvolvimento social e de políticas para acabar com a miséria no mundo. Desta vez, a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) deve ser assunto secundário entre os chefes de Estado, apesar de o processo de finalização da construção do bloco econômico e a eliminação de barreiras comerciais estarem agendados para 2005.

Nesta quinta-feira, 34 delegações de representantes das Relações Exteriores dos países que participarão da Cúpula Extraordinária das Américas estiveram reunidos no hotel Quinta Real, no centro de Monterrey, para rascunhar os tratados que serão levados aos chefes de governo na próxima segunda-feira, no início do encontro. O documento chamado de Declaração de Nuevo León tem como ponto principal o crescimento dos países em desenvolvimento e traz algumas questões sobre a Alca.

As sessões de trabalho da Cúpula Extraordinária das Américas serão divididas em três grupos. A primeira sessão será realizada segunda-feira à noite, após a abertura da Cúpula, e tem como tema de discussão o Crescimento Econômico com Equidade para Superação da Pobreza. Na terça-feira, logo cedo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abre o segundo grupo de trabalho sobre Desenvolvimento Social e, mais tarde, será iniciado um grupo sobre Governabilidade Democrática.

A comitiva brasileira será reduzida, devendo incluir apenas o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. O presidente Lula deve ficar hospedado no mesmo hotel que o presidente do país anfitrião, Vicente Fox Quesada; o presidente da Argentina, Néstor Kirchner; e o presidente do Chile, Ricardo Lagos. O presidente americano George W. Bush deve ficar hospedado a um quilômetro de distância do hotel do presidente Lula, no Presidente Intercontinental.

No final do ano passado, os presidentes Lula e Bush se falaram ao telefone e acertaram um encontro no México, após constatarem avanços nas negociações comerciais entre os dois países. Pode ser que essa conversa em prol do social inclua a proposta brasileira feita em dezembro pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, de liberação de produtos agrícolas no
continente por 12 anos, já que os Estados Unidos e a União Européia têm imposto restrições aos produtos brasileiros. Outro ponto que pode ser abordado são as decisões tomadas pelo G-20 (bloco formado em Cancúm, no ano passado, por iniciativa do presidente Lula) para fortalecer a agricultura nos países mais pobres.

A postura do presidente Lula é de crítica à postura restritiva dos países desenvolvidos e de defesa de interesses comuns, como a redução de subsídios agrícolas concedidos pelos EUA e pela UE sejam considerados para que se possa avançar na Organização Mundial do Comércio (OMC). Na última reunião da OMC, em Cancún, os 21 países do G-20 não aceitaram nenhuma das propostas feitas pelos EUA e pela UE.

A primeira reunião da Cúpula das Américas aconteceu em Miami, em 1994, com a
assinatura da Declaração de Princípios, pelos chefes de governo.