Lula afirma que fluxo comercial entre Líbano e Brasil precisa equiparar-se às relações culturais

05/12/2003 - 11h10

Murilo Ramos
Enviado especial ao Oriente Médio

Beirute (Líbano) – "O fluxo comercial entre o Brasil e o Líbano está muito aquém das relações culturais dos nossos países". Com esse discurso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, procurou estimular empresários brasileiros e libaneses, em seminário, a aprofundar o comércio bilateral. "Somos primos de verdade", disse. Apesar desse cenário, Lula afirmou ter esperança de que o Líbano sirva como um espécie de "ponta-de-lança" das exportações brasileiras na região do Oriente Médio.

O presidente brasileiro lembrou que há um desequilíbrio na balança comercial a favor do Brasil, mas que isso pode ser revertido ou equiparado caso a indústria libanesa diversifique a pauta de exportações. Ressaltou, ainda, que é preciso fortalecer a infra-estrutura e as telecomunicações para que isso aconteça de forma sustentada.

A empreendedores, Lula referiu-se até à possibilidade de se disponibilizar transporte marítimo direto, Líbano-Brasil. Salientou, entretanto, que é necessário humanizar o contato entre as pessoas. "Não é possível ser virtual. É preciso emoção", completou. Naquele momento, enalteceu o tino comercial dos libaneses, que ajudam o país a crescer. "Os empresários brasileiros precisam aprender muito com eles", reforçou.

Lula destacou também que o Brasil não é apenas um país com mercado consumidor de 170 milhões. Disse que o Líbano pode aproveitar a relação amistosa que tem com o Brasil para penetrar em outros mercados da América do Sul. "Ano que vem, no encontro de países sul-americanos com árabes, no Brasil, poderemos aprofundar ainda mais esse tema".

Apostou que a Casa do Brasil no Líbano, lugar para mostrar produtos e culturais brasileiros – a pedra fundamental será lançada hoje - é ideal para atrair compradores para mercadorias. Disse, ainda, que mais negócios entre Brasil e Líbano permitirão uma maior geração de riquezas e bem-estar para a população dos dois países.

Lula reafirmou que os países em desenvolvimento precisam se unir com o objetivo de conseguir negociar de igual para igual. Argumentou que isoladamente não vão chegar a lugar nenhum. Recordou que no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) tem sido muito difícil reduzir as barreiras impostas pelos países desenvolvidos, principalmente os subsídios agrícolas.

Conflito no Oriente Médio

Em discurso no parlamento libanês, o presidente brasileiro defendeu a necessidade da maior participação das Organização das Nações Unidas (ONU) na questão do Iraque e dos territórios ocupados. Frisou que é contra atentados terroristas, que "só alimentam a violência entre os povos da região. Os palestinos e Israel precisam encontrar um meio-termo para que vivam em paz. Ressaltou a necessidade de manter o "diálogo", a fim de rechaçar o argumento da força.

Na noite de ontem, o presidente libanês, Émile Lahoud, pediu ao presidente brasileiro apoio na devolução da resolução 425 da ONU, que prevê a devolução de "Shebba Farms".

Hoje o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o Brasil votará favoravelmente a essa causa, uma vez que defende esse ponto de vista.

Brasil no Iraque

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse que em breve muitos produtos brasileiros poderão ser vistos no território iraquiano. Para isso, a visita ao Líbano tem papel fundamental. Acredita que o contato com os empresários locais permitirá, por via indireta, amarrar negócios. Adiantou que países como Omã, Kwait e Arábia Saudita precisam terceirizar serviços, como da construção civil, e as empresas brasileiras se apresentam como grande possibilidade.

Em relação ao Líbano, disse que o país é referência em serviços e que as empresas brasileiras devem se ater a essa característica.