Brasília, 5/12/2003 (Agência Brasil - ABr) - Depois de reivindicar ensino médio específico, os índios também querem a oportunidade de freqüentar uma faculdade como o homem branco. Para discutir o assunto, professores e lideranças indígenas estão reunidos em Brasília, durante o I Encontro sobre Ensino Superior para Povos Indígenas.
Atualmente, apenas os estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Roraima possuem faculdades com curso específico para os índios, o de formação de professores. Mas eles querem mais. "Queremos viver a vida como os outros, porque é um direito nosso. A vitória nossa será quando pudermos andar com as nossas próprias pernas, independentes do branco. É o branco para medicar, branco para comandar, branco para dizer que direito nós temos, que direitos nós não temos. Por que não nós? Acho que já está na hora", afirmou Linda Marubo, do movimento estudantil indígena.
Os índios, acrescentou, também querem se formar em medicina, enfermagem, direito, entre outros. "Mas não tem que ser como o pessoal da Funai e de outras organizações quer. Eles assumem o compromisso de levar o índio da aldeia para a cidade. Ele se forma e volta para a comunidade. Mas no caso de um médico cirurgião, que estrutura ele vai ter para realizar uma cirurgia na comunidade se nem energia tem? Não tem medicamento, não tem nada".
Linda Marubo disse ainda que a falta de estudos faz com que os índios tenham vergonha de reconhecer a própria etnia. "Estudando, vamos poder conhecer os nossos direitos, vamos poder comandar as nossas organizações. Vamos poder caminhar com as nossas próprias pernas", afirmou. A maior dificuldade que os índios enfrentam, segundo ela, é o apoio para sair da comunidade e ingressar nas instituições de ensino superior. "Não temos o apoio da própria Funai".
Hellen de Souza, coordenadora do Encontro, disse que as universidades brasileiras historicamente já excluem alguns grupos, entre eles o dos índios. "As universidades são fechadas para as questões plurais. Você pode ter uma parcela de estudantes indígenas, negros e brancos, mas as universidades são monoculturais, só reconhecem o modelo que o Ocidente tem de produzir e socializar o conhecimento", afirmou Hellen.