Comissão anistia Apolônio de Carvalho, que voltará ao Exército no posto de general

05/12/2003 - 14h02

Brasília, 5/12/2003 (Agência Brasil - ABr) - Chamado pelo escritor Jorge Amado de "herói de três pátrias", o ex-coronel do Exército, Apolônio de Carvalho, teve hoje sua luta contra a ditadura militar reconhecida. Nesta sexta-feira, ele foi declarado anistiado político pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Com isso, será reintegrado ao Exército como general e receberá indenização referente ao período em que esteve afastado, além aposentadoria automática.

Apolônio foi expulso do Exército por se opor ao governo de Getúlio Vargas. Exilado, ele lutou na guerra civil espanhola e na resistência francesa. Há 50 anos, foi reconhecido pelo governo francês por sua contribuição no movimento de resistência. De volta ao Brasil, atuou na clandestinidade contra o regime militar.

Com 92 anos, Apolônio não pôde acompanhar a sessão que lhe concedeu sua anistia. Casado com uma francesa, ele tem dois filhos e mora no Rio de Janeiro.

"Apolônio é uma figura que percorre o nosso imaginário como se fosse uma lenda. Ele lutou todas as lutas que valeram a pena no século passado", disse o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Seu filho, o economista René Louis de Carvalho, falou sobre a emoção que sentiu com reconhecimento, pelo governo, da luta do pai. "Nós – filhos, família – vivemos na clandestinidade, escondidos sem poder expressar nossas idéias quase que metade da vida. Elas serem colocadas de público e reconhecidas, é uma mudança tão grande que efetivamente emociona demais".

A Comissão de Anistia encaminhou à Presidência da República uma indicação para que Apolônio de Carvalho seja reconhecido por mérito pelo governo brasileiro. Será a primeira vez que uma anistiado receberá esta homenagem.

O ministro da Justiça ressaltou que a anistia de Apolônio de Carvalho, que contribuiu para a fundação do Partido dos Trabalhadores, tem uma caráter simbólico. Além disso, é um reconhecimento da dívida do país às pessoas que lutaram pela liberdade e igualdade nos "anos de chumbo".

"Essa não foi só a luta do Apolônio, mas foi a luta de todos os anistiados e anistiandos. Vocês foram aquilo que o grande romancista francês, Albert Camus, descreveu: 'vocês consentiram em se tornar criminosos para que o mundo se povoasse de inocentes' ", afirmou Thomaz Bastos.

O ministro acrescentou que é preciso adotar medidas concretas para pagar a dívida com essas pessoas, como a determinação de incluir no Orçamento recursos para o pagamento de indenizações.