Brasília, 26/8/2003 (Agência Brasil - ABr) - Uma equipe independente investigou nos últimos sete meses as causas do acidente com o ônibus espacial Columbia e concluiu que a cultura organizacional de caráter burocrático da agência espacial norte-americana, Nasa, bem como sua relutância em lidar com questões de segurança teve papel preponderante no caso tanto quanto as falhas mecânicas. E mais, a chefia da Nasa foi alertada sobre o defeito no sistema de proteção ao calor apresentado já na decolagem do ônibus, mas se negou a tomar providências afirmando não ter nada que fazer naquele momento. As conclusões da investigação foram apresentadas hoje (26), pelo coordenador do trabalho, Harold Gehman Jr.
O Columbia era um dos quatro ônibus espaciais da Nasa e destruiu-se ao entrar na atmosfera no dia 1ª de fevereiro, quando a tripulação de sete astronautas voltava de uma missão de 16 dias no espaço. O relatório tem 248 páginas e aponta uma falha mecânica como a causa do acidente. Um pedaço de espuma que isolava o tanque externo do ônibus se desprendeu, durante a decolagem. O sistema de proteção ao calor ficou danificado e um gás superaquecido atingiu a parte interna do revestimento de alumínio enquanto o veículo entrava na atmosfera terrestre.
Segundo o relatório, engenheiros notaram o defeito e pediram que o fato fosse investigado antes do retorno do Columbia, mas a administração da Nasa não se pronunciou a respeito. De acordo com conclusões apontadas no documento, a chefia da agência teria tido pelo menos oito oportunidades para verificar os danos ao sistema de proteção ao calor, mas os diretores preferiram ignorar o assunto, já que problemas semelhantes aconteceram no passado sem conseqüências graves.
O comitê de investigação alerta, no relatório, para a importância da revisão dessa política, caso contrário haverá risco de perda dos outros três ônibus. Os especialistas constataram ainda que a agência espacial fez muito pouco para melhorar o sistema de segurança dos ônibus desde a perda da Challenger, em 1986. Neste acidente, também morreram sete astronautas. "Nas vésperas do acidente do Columbia, práticas institucionais que existiam na época do acidente da Challenger foram retomadas", apontam no documento.
O diretor da Nasa, Sean O'Keefe, admitiu, antes da divulgação do relatório, que a agência desconsiderou a seriedade do problema ocorrido com a espuma de proteção ao calor. Hoje, O'Keefe afirmou que as recomendações são bem-vindas e permitirão à Nasa aperfeiçoar seu trabalho.
A responsabilidade pelo acidente não teria sido só da agência, segundo aponta ainda o relatório. A equipe de investigação culpa também a Casa Branca e o Congresso, que vinham pressionando a agência a congelar os custos operacionais com a manutenção dos ônibus espaciais. Os especialistas sugerem 29 linhas de ação antes que a Nasa retome os vôos espaciais com sua frota de ônibus.
Entre as sugestões estão a inclusão de sistema de prevenção contra falhas no sistema de proteção ao calor durante o lançamento; realizar um programa de recertificação de segurança de todos os sistemas dos ônibus espaciais até 2010; fazer imagens de alta resolução do ônibus em terra e após o lançamento; explorar opções de salvamento de tripulações em risco. As naves espaciais são o único meio de transporte de astronautas que realizam serviços na Estação Espacial Internacional (ISS). Atualmente, a Rússia, com a nave Soyuz, é o único país responsável por transportar equipes para a ISS, que tem dois tripulantes a bordo.
Próxima missão
Peritos da Nasa disseram, hoje, depois da divulgação do relatório do Columbia, que o ônibus Atlantis partirá para a próxima missão espacial da agência, entre 11 de março e 6 de abril do próximo ano. O plano de retorno às missões espaciais tripuladas da Nasa deve ser apresentado ao congresso norte-americano na próxima semana. Quatro astronautas estão em treinamento em maquetes do Atlantis e da Estação Espacial. Eileen Collins será o comandante da missão e seus parceiros serão James Kelly, Stephen Robinson e o astronauta japonês Soichi Nogushi. É provável que o objetivo seja trazer de volta os atuais tripulantes da estação. O astronauta Michael Foale e o cosmonauta russo Alexander Kaleri, devem partir para o espaço, em outubro, para integrar a tripulação da ISS, a bordo da nave Soyuz.
Com informações da CNN, da agência Lusa, da BBC e da Folha On Line