Lula diz que relação comercial entre países ricos e pobres é desumana

26/08/2003 - 14h27

Caracas - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou hoje de "desumana" a relação comercial dos países ricos com os países pobres, na declaração conjunta com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Lula disse que os países que estão ricos querem ficar cada vez mais e que os que estão pobres tendem a empobrecer mais. Segundo o presidente, engana-se o dirigente do país que pensa que, viajando muito, indo a uma reunião da OMC e fazendo o discurso de o país que é pobre, tem muitos analfabetos e muitas crianças de rua, muitos desempregados, muita falta de casas para o povo morar, vai sensibilizar alguém a baixar os preços, para que consigam vender os seus produtos.

Lula disse a Chávez que a questão dos países ricos tem que ser vista como a lição que ele e o presidente venezuelano aprenderam na luta social. "A nossa união é o grande instrumento para fazermos com que os países ricos do mundo - nem ceder nós queremos que eles cedam, nós apenas queremos que eles coloquem, na prática, o discurso que eles nos fazem a vida inteira. Nós queremos que o comércio seja livre e queremos também a oportunidade de provar que as relações, quando mais livres, nós seremos mais competitivos e, quem sabe, poderemos um dia nós transformar em país rico", concluiu.

Os presidentes do Brasil e da Venezuela assinaram acordos e protocolos de intenção que permitirão troca de investimentos entre os dois países, com o objetivo de aumentar a integração física, tanto em território brasileiro quanto venezuelano. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, explicou que o convênio assinado entre Brasil e Venezuela, para a área de infra-estrutura, abre uma linha de crédito de US$ 1 bilhão, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que deverá ser utilizada ao longo do tempo para projetos especificos de exportação de bens e serviços brasileiros. "Cada projeto será analisado pelo banco e, após o trâmite e aprovação, serão então disponibilizados os recursos individuais para cada projeto", afirmou Furlan.

O acordo firmado hoje pelos governos do Brasil e da Venezuela terá aprovação dos créditos, dependendo do trâmite no BNDES. "Ele é destinado à exportação de máquinas, equipamentos e serviços brasileiros. Essas obras devem estar enquadradas nas prioridades decididas pelos presidentes para a integração física da América do Sul", disse Furlan. O ministro definiu a integração de Brasil e Venezuela como uma nova era entre dois países grandes e ricos, mas que têm ainda intercâmbio muito fraco, por força da dificuldade de logística, principalmente. "Eu acho que essa iniciativa do presidente Lula conta com total apoio do presidente Chávez, e acredito que, nos próximos 4 anos, haverá grandes investimentos de infra-estrutura, e a América do Sul será diferente, quando esses trabalhos forem concluídos", afirmou.

Nelson Mota e Lourival Macedo