Grupo de Amigos da Venezuela reúne-se para outra rodada de discussões

10/03/2003 - 21h28

Brasília, 10/3/2003 (Agência Brasil - ABr) - O Grupo de Amigos da Venezuela reuniu-se hoje no Itamaraty para mais uma rodada de discussões sobre a situação daquele país. O grupo formado pelo Brasil, Espanha, Portugal, Chile, México e Estados Unidos foi articulado pelo governo Lula a partir de uma sugestão do presidente venezuelano, Hugo Chávez, para facilitar negociações com o propósito de restabelecer a normalidade da vida política e social e das instituições democráticas.

De acordo com o subsecretário de assuntos bilaterais do Itamaraty, embaixador Gilberto Sabóia, o encontro foi positivo. "Foi um exercício de reflexão interna que será objeto de um relatório ao governo venezuelano, à oposição e aos chanceleres dos países componentes do grupo", disse Sabóia. Ele descartou a possibilidade de o grupo ter papel decisivo na retomada da democracia no país. "O grupo é auxiliar e não podemos substituir as instituições do país", considerou.

O embaixador disse também que a reinvindicação dos anti-chavistas, para que a Organização dos Estados Americanos passe a exercer papel mediador, em vez de ser apenas facitador nas negociações entre governo e oposição, só será considerada se for feita em conjunto pelas duas partes. O embaixador venezuelano junto à Organização dos Estados Americanos (OEA), Jorge Valero, que participou da reunião, disse que seu país "gradativamente está voltando à normalidade pelo caminho democrático".

Segundo Valero, prova de tal fato foi a aprovação, por unanimidade, no parlamento venezuelano, da criação de um comitê que elegerá os representantes do Conselho Nacional Eleitoral. Valero informou que o conselho será responsável pela coordenação e fiscalização das próximas eleições que "provavelmente ocorrerão somente em 2005". Segundo ele, a substituição do presidente Hugo Chávez, por via democrática, só será possível, antes dessa data, em agosto, se houver por parte de 20% do eleitorado de 11 milhões de pessoas a requisição de um referendo que poderá exigir ou não a saída do presidente. Como exemplo de volta à normalidade na Venezuela, o embaixador citou a retomada da produção de petróleo.

As declarações de Jorge Valero foram contestadas em seguida pelo coordenador da delegação que faz oposição ao governo da Venezuela na Mesa de Negociações e Acordos do Grupo de Amigos da Venezuela, Timóteo Zambrano. Para ele, o país ainda vive "um caos". "As refinarias de petróleo estão produzindo apenas 1 milhão de barris/dia de petróleo, enquanto a capacidade normal é de 2,5 milhões de barris/dia, e o país está importando toda a gasolina que consome. Os conflitos de rua persistem, assim como atentados às embaixadas e perseguições políticas. Cerca de um milhão de pessoas perderam seus empregos com as conturbações vividas no país", denunciou. Zambrando defendeu uma proposta de emenda constitucional que possibilite novas eleições presidenciais em seu país no prazo de dois meses.

Participaram do encontro, além ministro interino das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, e do subsecretário, Sabóia, o presidente da OEA, César Gaviria; o vice-ministro de Relações Exteriores do Chile, Cristián Barros; o secretário de Estado e assistente para Assuntos Hemisféricos dos Estados Unidos, Curtis Struble; o sub-secretario de Estado para Cooperação Internacional e Ibero-Americana da Espanha, Ernesto de Zulueta; o sub-secretário do México para a América Latina e Caribe; Gustavo Iruegas, e o secretário-geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, João da Rocha Páris. O embaixador Valero e o chefe da delegação anti-chavista deram suas versões sobre a situação da Venezuela separadamente para os participantes do encontro.