Alex Rodrigues
Repórter Agência Brasil
Brasília - Os três biólogos sequestrados por índios mundurukus na última sexta-feira (21), no sul do Pará, foram libertados na noite de ontem (23). Os profissionais foram detidos enquanto pesquisavam a vegetação e os animais da região. A libertação ocorreu depois de o governo federal anunciar que as pesquisas de aproveitamento hídrico do Rio Tapajós, promovidas pela Eletrobras, vão ser suspensas e os índios, consultados.
Os resultados dos estudos de flora e fauna serviriam de subsídio para um futuro estudo de impacto ambiental, necessário à construção do Complexo Hidrelétrico do Tapajós, que prevê a instalação das usinas de São Luiz do Tapajós, próximo a Itaituba, e Jatobá, perto de Jacareacanga. O empreendimento, contudo, é rechaçado pelos índios, que reclamam por não terem sido ouvidos antes do início das pesquisas, conforme estabelece a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A suspensão dos estudos contratados pela Eletrobras foi anunciada na tarde de ontem, durante uma reunião entre índios e o grupo de assessores enviado pelo governo federal para negociar a soltura dos biólogos. A interrupção foi confirmada esta manhã, pela assessoria da Secretaria-Geral da Presidência da República. Ficou definido ainda que em julho representantes do governo federal e líderes mundurukus vão se reunir para discutir o processo de consulta.
De acordo com a assessoria da empresa, embora estivessem relativamente próximos aos limites da Terra Indígena Munduruku, em momento algum os pesquisadores e a equipe que os acompanha entraram na reserva. Ainda segundo a assessoria da Eletrobras, o mastozoólogo (especialista em mamíferos) Djalma Nóbrega e os ictiólogos (especialista em peixes) José Guimarães e Luiz Peixoto prestavam serviços a Concremat, empresa contratada pela Eletrobras.
O grupo munduruku é o mesmo que, em protesto contra os projetos de aproveitamento hídrico dos rios da região, só no último mês, ocupou por duas vezes o principal canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, próximo a Altamira (PA).
Foram eles também que, no início do mês, viajaram a Brasília e se reuniram com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e outros representantes do governo federal, a quem pediram que os estudos fossem interrompidos e o processo de consulta previsto na Convenção 169 da OIT regulamentado. O governo federal garante que já vem fazendo isso.
Insatisfeito com as negociações, o grupo ainda ocupou a sede da Fundação Nacional do Índio (Funai) antes de retornar ao Pará, prometendo se unir a outras etnias indígenas a fim de barrar a construção de usinas hidrelétricas.
Edição: Talita Cavalcante
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