Exposições trazem o olhar de cinco fotógrafos para a capital paulista

05/05/2013 - 17h30

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Em mais de quarenta anos de trabalho, o diretor de fotografia Carlos Ebert acumulou um acervo de 3 mil fotos, grande parte retratando cenas próximas ao ambiente das filmagens em que participou. A partir desse arquivo foi feito um recorte com  45 imagens, divididas em três séries, que pode ser visto no Museu da Imagem e do Som (MIS), zona oeste paulistana até o dia 16 de junho. Com outras quatro exposições, a mostra faz parte do Maio Fotografia, evento promovido pelo museu que conta ainda com cursos, palestras e oficinas.

Ebert abriu seu acervo, mas preferiu deixar a montagem da exposição a cargo do curador Reinaldo Cardenuto e da equipe do museu. “É muito difícil ter uma visão do todo do seu trabalho. Você está muito comprometido, todas aquelas fotos têm uma conotação extra-estética para você, evocam uma outra coisa”, explica o diretor responsável pela fotografia de O Bandido da Luz Vermelha, de Rogério Sganzerla, além de O Rei da Vela, de José Celso Martinez Corrêa, entre muitos outros.

“Pouquíssimas fotos não tem a figura humana. Uma coisa que eu achei interessante. Foi um recorte deles”, acrescenta o fotógrafo sobre o resultado final da exposição. Em alguns casos, a figura humana é o centro, como o retrato de uma vendedora ambulante amamentando o filho, em outros, apenas dá a direção da composição, como o homem que caminha em um corredor de cores futurísticas.

Fazer imagens estáticas é uma forma de Ebert aprimorar seu olhar para o trabalho no cinema. “A fotografia tem um papel importante para mim, como diretor de fotografia, pessoa que lida com imagens há quase 50 anos. É uma espécie de caderno de anotações, rascunho”, conta o fotógrafo em tempo integral. “Não saio para comprar um pão na esquina sem levar câmera.”

As cenas capturadas sobre variados temas ajudam Ebert a refletir sobre si mesmo. “A fotografia tem um lado meio psicanalítico. Você descobre algumas fixações. Mais uma psicanálise da estética, do que uma psicanálise da sua psique”, explica sobre as imagens. Muitas fotos têm motivos geométricos. Em outras, a atenção veio de uma mensagem escrita na parede, há ainda os bastidores, tanto das filmagens, como do próprio cotidiano, como um Papai Noel de shopping antes de vestir a fantasia. “Eu persigo os mesmos temas. Algumas coisas eu fotografo há quarenta anos”, destaca.

Muito mais recente é o interesse de Luiz Maximiano pela fotografia. Ele conta que se interessou pelo fotojornalismo no período em que viveu na Holanda, entre 2003 e 2010. As imagens captadas por Maximiano foram incluídas na programação do MIS a partir do programa Nova Fotografia, que busca dar visibilidade a artistas promissores. “Quando eu vi que queria ser fotojornalista mesmo, comecei a investir em viagens. Eu passava duas ou três semanas em um lugar para tentar fazer uma história com um pouco mais de profundidade”, conta o fotógrafo sobre como ingressou na área.

Em uma dessas viagens, em 2008, Maximiano decidiu ir ao Paquistão após o atentado que matou ex-premiê Benazir Bhutto, que concorria à presidência à época. “Eu achei que era um antes e depois na história do Paquistão e que era uma hora interessante para entender um pouco do país”, explica sobre a viagem que resultou em um ensaio que traz cenas do cotidiano local. “Ficou uma coisa bem sutil das peculiaridades desse país”, comenta.

Apesar dos conflitos armados não serem o foco do trabalho, as armas estão presentes nas imagens, assim como os olhares desconfiados em direção à câmera. “Foi muito difícil por causa do momento em que eu fui para lá. Todo mundo com os nervos à flor da pele”, lembra. Mesmo assim, Maximiano conta que tentou ser “o mais discreto e não intrusivo possível”, método recorrente em seu trabalho. “Normalmente eu vou tranquilo. Fico ali uns dois, três dias só zanzando, vendo os lugares, estudando a luz: que horas o sol vai se pôr, como é a sombra em tal lugar”, explica.

Também podem ser vistas no MIS a exposições do francês Willy Ronis, do brasileiro Chico Albuquerque e do dinamarquês Joakim Eskildsen.

 

Edição: Lílian Beraldo

 

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