Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - “Nos campos do Oriente Médio, que é um grande cemitério, está a juventude da primavera convocando os ocupantes dos sepulcros para se levantar e marchar em direção às novas fronteiras”. A frase, que poderia estar se referindo às revoltas da Primavera Árabe, iniciadas em 2011, foi escrita há mais de 50 anos pelo poeta, filósofo e artista plástico libanês Khalil Gibran. Ele teve como um dos temas a revolta contra as tradições que oprimiam o seu povo. Essa e outras facetas do artista podem ser vistas na exposição que comemora os 130 anos de seu nascimento, no Memorial da América Latina, zona oeste paulistana, até o dia 26 de junho.
Doutor em filosofia e leitor de Gibran, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, acredita que o poeta não é apenas atual, como aponta para níveis que a sociedade contemporânea ainda não conseguiu alcançar. “Ele não é só atual, eu acho que ele projeta uma convivência entre homens e mulheres de outro tipo. Ele consegue enxergar no espírito humano muito mais do que ele [espírito] foi capaz de produzir até aqui”, destacou ao participar da abertura da mostra que reúne quadros a óleo, carvão e aquarela. “Ele realmente extraiu das palavras o que a nossa essência tem de melhor. É uma pessoa que consegue desenhar quase uma utopia de convivência humana, e isso faz dele uma literatura incontornável, espiritualmente muito rica”, acrescentou Haddad.
As obras passam por temas variados, como o óleo sobre tela O Outono, de 1909. Nessa, a estação é representada por uma mulher com o busto nu e cabelos avermelhados ao vento. Entre as 52 pinturas, manuscritos e objetos pessoais, muitos remetem a temas fantásticos, como as aquarelas Centauro e Criança e Centauro Fêmea. O ente mitológico - meio homem, meio cavalo - faz referência ao lado animal do ser humano. Podem ser vistos ainda autorretratos e retratos de amigos do artista.
É a primeira vez que a exposição com peças do Museu Gibran, que fica no Líbano, vem à América do Sul. “É um privilégio para o Brasil recebê-la. Então, eu acho que o público tem que aproveitar bastante e não vir só uma vez aqui, vir várias vezes para meditar junto com Khaill Gibran”, destacou a presidenta da Associação Cultural Brasil-Líbano, Lody Brais.
O presidente da Fundação Memorial da América Latina, João Batista de Andrade, ressaltou que apesar de Gibran não ter relações diretas com o continente, os países da região têm forte ligação com o mundo árabe. “O memorial, apesar de ser mais ligado à América Latina, tem que se abrir a essas coisas que também são comuns à América Latina. Porque a América Latina tem árabes em todos os países e certamente Gibran é cultuado”, disse.
Edição: Graça Adjuto
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