Economista indiano defende uso de PIB que relaciona destruição de base produtiva com bem-estar da população

26/02/2013 - 23h03

Da Agência Brasil

Rio de Janeiro - Considerado um dos maiores especialistas do mundo em economia ambiental, o economista indiano Partha Dasgupta apresentou hoje (26) o seu conceito de Produto Interno Bruto (PIB) Ambiental em palestra no auditório da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE), da Fundação Getulio Vargas (FGV). O economista criticou o uso do PIB como forma de medir a riqueza de um país e defendeu a criação de novos indicadores, capazes de mostrar a destruição da base produtiva relacionada ao bem-estar da população mundial.

“O PIB não está medindo ativos, ele pode estar subindo mesmo que a riqueza do país não esteja. Um bom exemplo seria um pais exportador de petróleo e que este seja seu único produto. Ele vende o petróleo no mercado e usa esses recursos para o consumo. Imagine que ele cave mais e mais rápido, nesse momento, as exportações e o consumo sobem. O PIB só mostra o consumo, não existem investimentos. O PIB vai subir, mas a riqueza vai diminuir, pois a razão pela qual ele está subindo é o fato de o país estar minando os seus ativos”, explicou o economista.

O professor dividiu os seus indicadores em três tipos de ativos: capitais “industrializado” ou físico (máquinas, edifícios, infraestrutura etc), capital humano (instrução e habilidades da população) e capital natural (terras, florestas, combustíveis fósseis e minerais). A pesquisa foi feita entre os anos de 1995 e 2000 e abrangeu cinco países: China, Brasil, Venezuela, Índia e Estados Unidos.

De acordo com o estudo, no ano de 1995 a composição da riqueza per capita foi dividida da seguinte forma: capital físico: U$ 10,7 milhões; capital natural: U$ 16,7 milhões; capital humano (educação): U$ 44,4 milhões; capital humano (saúde): U$ 2,450 milhões. O total da riqueza foi U$ 2,521 milhões, que representa quanto as pessoas cobrariam em salário para ter um risco adicional de morte.

“O capital natural estipulado foi muito ruim, muito subestimado, a maioria do capital natural não foi avaliada, pois não temos dados. No Brasil isso é uma tragédia, porque há uma mina de ouro natural. Meus estudos indicam que em um futuro próximo, o capital natural e o capital humano vão dominar os interesses. Os números são apenas ilustrativos, eles não estão me dizendo nada de significativo sobre a economia brasileira, existem grandes lacunas na pesquisa. A questão é que os dados são fornecidos se há demanda por eles”, explicou Dasgupta.

Para o professor, as pessoas estão competindo entre si, o que as leva a consumir quantidades cada vez maiores de produtos. “Eu fico infeliz se você tem um carro melhor. É como uma 'corrida de ratos'. Eu tento derrubá-lo, você tenta me derrubar e nenhum de nós fica feliz. É como subir numa escada rolante que está descendo, não há nenhum progresso. O bem-estar depende não só do que eu consumo, mas do consumo em relação às pessoas do meu bairro e os outros fazem a mesma coisa, então podemos dizer que nós todos estamos consumindo mais do que aprovaríamos coletivamente”, disse.

Partha Dasgupta é professor emérito de economia na Universidade de Cambridge, membro da St. John College e professor pesquisador na Universidade de Manchester, todas no Reino Unido. O economista desenvolve, entre outras, pesquisas ligadas ao bem-estar e desenvolvimento econômico, a economia da mudança tecnológica, da população e do meio ambiente.

Edição: Fábio Massalli

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